"Vivemos a amargura de Nino, o mais emotivo e jovem de todos os personagens, desabituado ao controlo e demonstrando uma revolta crescente. Este papel foi desempenhado por Nuno Ferreira, um jovem sem experiência como actor com que Costa teve dificuldades em lidar, e que não voltaria a fazer outro filme. Mas o realizador ficou feliz com o desempenho do jovem, "Provavelmente porque me revia imenso neste rapaz, com esta idade.", diz. Depois de "O Sangue", o jovem Nuno atravessou um período difícil, fugindo de um orfanato católico aos 14 ou 15 anos. Durante bastante tempo, Costa perdeu o contacto com Nuno, ouvindo dizer sem certeza que ele se tinha tornado mecânico. Depois, soube que Nuno se tinha viciado em droga e, por ironia e acaso, encontrou-o nas Fontainhas (o bairro lisboeta maioritariamente cabo-verdiano, hoje demolido, onde viria a filmar "No quarto da Vanda"), a que Nuno se dirigia para se abastecer de heroína. "Foi muito estranho", relembra Costa, "estava a trabalhar naquele sítio e aquele actor, que era a minha criança de sonho, era agora um drogado." Admitindo o seu impulso para, de algum modo, "salvar" Nuno, Costa propôs-lhe uma função, não como actor, mas num cargo no set de filmagens, o que o Nuno recusou. "Ele era selvagem e suicida", descreve Costa, que desde então não voltou a ter notícias dele. Mas constou-lhe que Nuno casou."
Dos jornais XI (Natal)
Há 15 horas
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