O filme do Truffaut é belíssimo, obviamente. Descreve os refúgios físicos e espirituais de um rapaz que não se identifica com a família nem com a sociedade (são esses refúgios que o salvam, foram esses refúgios que salvaram Truffaut). Original, trágico, universal e terno, disse Godard - não vale, portanto, muito a pena insistir na repetição da coisa.
Digo isto, então; Dedicado a Bazin e remetendo a um passado estético francês (Vigo, Balzac, Cocteau, Renoir), italiano (Sica e Rossellini) e americano (Ray, Welles...), e é o americano que me interessa aqui analisar,
Les 400 Coups filma a liberdade impossível de um adolescente no seu meio, como Ray a filmara inúmeras vezes, de
They Live By Night a
Rebel Without a Cause. Mas no
plano final, expondo Doinel a uma interrogação passado/futuro (a praia é símbolo da transição, ele torna-se adulto nesse momento), a liberdade emocional é possível. Não há amarras. Não há estúdios, também. A liberdade impossível de Ray e Welles torna-se a liberdade possível de Truffaut, Rivette e Godard (e outros), passa-se o testamento e renova-se o Cinema, o plano tem tanto de emocional como do ano de 1959, digo até que o plano é o ano de 59, resume as suas convulsões, perfeitamente. O plano é a interrogação literal de Doinel, mas também a interrogação metafórica e cinematográfica de Truffaut, o plano é a Nouvelle Vague e a questão da sua praticabilidade.
Eu já desconfiava, e agora confirmo, que Les 400 Coups é, dos filmes-berço do movimento, o que melhor o simboliza; ainda adoro desmedidamente o do Resnais, obviamente. O do Godard é do Godard, é o que consigo dizer...