quinta-feira, 31 de março de 2011

2ª série dos Planos (VII)


I / II / III / IV / V / VI

Uma ou duas vezes por semana, convido bloggers a escolher um plano e a falar, também, sobre ele. O sétimo convidado é o Luís A, do Grandes Planos, que escolheu o último plano de The Aviator, de Martin Scorsese.



A dor, loucura e resignação no olhar de Di Caprio. Um personagem amaldiçoado que repete "the way of the future" até à exaustão, quando nós (e ele) sabemos que esse caminho para o futuro será sombrio e marcado pela tragédia. Scorsese têm a mestria de refrear o plano e estender a sua duração, concentrando-se no essencial, o rosto humano. E a cada repetição da frase ficamos cada vez mais certos da tragédia de Howard Hughes. (Luís A.)

O próximo convidado é o Luís Mendonça.



terça-feira, 29 de março de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Os três mandamentos de Mario Bava


(porque tenho escrito pouco por aqui, deixo o texto que escrevi para a segunda ronda da Tertúlia Cinematográfica)


I Tre Volti della Paura (1963)


Movies are a magician's forge. They allow you to build a story with your hands.

Mario Bava

Da cor e da luz

Bava começou como director de fotografia no regime fascista de Benito Mussolini, facto muitíssimo importante. Deve a estes anos todo o talento e à vontade para manipular os seus filmes pelo controlo da cor e da luz e isso é coisa que faz desde La Maschera del demonio, de 1960, o primeiro filme a ele creditado. Se a fotografia parece exagerada ou completamente desvairada (se isso é mau) nos filmes de Bava, é porque o género e o tema se prestam a isso. Bava é um cineasta de obsessões, sexuais, visuais, sonoras; é cineasta de ciclos de cores, de planos, de movimentos de câmara; e como não há adjectivos para imensas sequências deste filme em particular, descrevo a aproximação de Boris Karloff à câmara, plano perto do fim do segundo episódio, as várias cores a iluminar as duas faces do actor, verde, vermelho, close up. Bava é tremendamente barroco e sabe conter-se até à explosão formal, tem perfeito domínio da paleta de cores à sua disposição, conhecendo o estúdio e as suas potencialidades como se conhece a si.


Il telefono

Do som e do ritmo

Se Bava é o cineasta da cor, a verdade é que I Tre Volti della Paura é o filme do som. Tudo se constrói em torno dele, havendo um leitmotif recorrente para cada episódio.; Em Il Telefono, é o tique-taque do relógio, que marca o tempo e estabelece a tensão, os “guinchos” do telefone só têm, aliás, o poder que têm por causa disso. Só são aguçados e aterrorizadores porque há uma tensão incrível (tique taque, tique taque), um compasso de espera. Em I Wurdalak, é o vento e em Goccia d'Aqcua é a gota de água (este último, aliás, constrói-se todo sob o signo do som). São tudo peças de tensão construídas meticulosamente, mais por Bava do que por qualquer director de som. Estes leitmotifs sonoros percebem-se nas pausas discursivas do filme, e têm beleza neles, não são “só” sons.

Mise en scène é o segundo episódio de I Tre Volti della Paura, montagem é o primeiro e sound design é o terceiro. Por muitas coisas, mas pensando só num, porque em Goccia d'Acqua passa-se tudo em off, fora de campo, e Bava (aqui grande menção, também, a Mario Messina, o director de som) pontua todo o episódio com o innuendo constante do som. O filme, esse, é a Santíssima Trindade do Terror, cada episódio parece abrir uma corrente estética do Horror distinta. Il Telefono (Carpenter, Argento, giallo), I Wurdalak (Tim Burton, George Romero) e Goccia d'Acqua (Polanski, DePalma). E nisto acredito piamente.


I Wurdalak

Do espaço e dos ambientes

A terceira dimensão fílmica a seguir ao som e à imagem, o espaço. Bava trabalha-o aqui extraordinariamente. Em todos os episódios há um local-chave onde tudo acaba por confluir, seja o apartamento de Il Telefono, a casa medieval de I Wurdalak e o apartamento sombrio de Goccia d'Acqua. Convém, no entanto, sublinhar, que para cada episódio tem efeitos diferentes, porque, por exemplo, só no último episódio é que há verdadeira claustrofobia, os dois primeiros são muito mais abertos, o terror vem doutro sítio.

Ambiência” é o resultado de tudo isto, a tal coisa que muitos filmes (a maior parte) não têm. Só há mise en scène, que é como quem diz, só há ritmo ou só há ambiente, quando se é cineasta antes de autor e artesão antes de cineasta (como o comprova a citação do início). Bava era artesão antes de tudo, e não há melhor elogio possível.


Goccia d'Acqua

segunda-feira, 21 de março de 2011

2ª série dos Planos (VI)


I / II / III / IV / V

Uma ou duas vezes por semana, convido bloggers a escolher um plano e a falar, também, sobre ele. O sexto convidado é o hg, do INSTORM, que escolheu o último plano de Les 400 Coups, de François Truffaut (cheguei a falar dele aqui):


Se escolher um filme é já tarefa complicada, escolher um plano abeira-se do impossível. Mais ainda para alguém, como eu, cuja principal admiração e fascínio é quase sempre o terceiro plano que surge da junção de outros dois. Raramente me enamorando de um plano per se.

Mas, não querendo recusar o convite do João, esforcei-me por vasculhar a memória em busca de um qualquer plano que me tivesse marcado. Algo especial e distinto. Um momento cinematográfico que, sem interrupções, se destacasse de todos os outros. Nomes como Hitchcock, Kubrick, Godard, Buñuel, Kieslowski ou Carax foram os primeiros que me assaltaram de imediato a memória. Todos eles com muito por onde escolher. Muito para dizer. Mas, entretanto, um outro momento me veio à memória. E sobre esse, de tão especial, pouco ou nada tenho a acrescentar. Foi até pelo seu aspecto enigmático e mágico, ainda hoje para mim incompreensível na sua totalidade, assim transformado num daqueles planos que para sempre me irá acompanhar, que a minha escolha nele recaiu.

Tudo isto para dizer que me acabei por decidir pelo plano que fecha Les Quatre Cents Coups. O tão conhecido plano do pequeno grande Antoine Doinel que, chegado à praia, em fuga, Truffaut imortalizou num freeze do preciso momento em que Doinel parece olhar na nossa direcção. Ainda hoje, tantos anos passados do primeiro arrepio, e várias visitas ao filme depois, continuo sem conseguir descortinar o (verdadeiro) significado daquele último olhar (se é que uma verdade existe em casos como este). Racionalmente parece fácil encontrar explicações e significados. Mas, ali chegado, acabo sempre surpreendido. Desarmado. Todo eu emoção. E aí, assim, nesse estado, tudo muda a cada visionamento. E por isso, culpa desse enigma, o plano por mim escolhido só poderia ser este. Mesmo que nada consiga dizer sobre ele sem deixar de achar que, a cada palavra, me estarei a afastar cada vez mais da magia e mistério que ele encerra. (hg)

O próximo convidado é o Luís A.

domingo, 13 de março de 2011

'Educação Visual'




O segredo está no sentimento,
O futuro está guardado para os que fazem boa vida.
Representam, seja qual for a origem.
Partilham quando vencem com aqueles que sentem

Valete, MC

Educação Visual, obra de amor

2ª série dos Planos (V)


I / II / III / IV

Uma ou duas vezes por semana, convido bloggers a escolher um plano e a falar também sobre ele. O quinto convidado é o Harry Madox, do Duelo ao Sol, que escolheu este plano de The Man who Shot Liberty Valance, de John Ford:


Quando recebi o amável convite do Cine Resort para escolher um plano, pensei logo neste (de ‘O homem que matou Liberty Valance’, John Ford, 1962): John Wayne na soleira da porta, a olhar para Vera Miles e James Stewart; ela chora e acaricia este último, aliviada por ele ter sobrevivido ao confronto com Liberty Valance. E Wayne mentaliza-se aí, definitivamente, que perdeu para sempre a mulher que ama.

Ele que fizera questão de levar James Stewart a sua casa, à casa que estava a ampliar para poder morar lá com Hallie (Vera Miles) após o casamento, como explicou. E que quando Stewart observa que toda a gente tomava isso como certo, replicara: ‘everybody except Hallie, and maybe you’. E percebemos que ele já duvidava, que já sentia que a estava a perder. Mas mesmo assim não hesitou em salvar o seu ‘rival’, atirando-o directamente para os braços acolhedores da mulher que deseja.

‘O homem que matou Liberty Valance’ é reconhecido como sendo o nostálgico adeus de John Ford ao Velho Oeste, mas para mim sempre foi, principalmente, o filme em que o idealista advogado Ramsom Stoddard rouba a mulher (e a cidade) ao cowboy Tom Doniphon, num dos raros casos em que o protagonista (e como fez questão de sublinhar João Bénard da Costa, este é um filme sobre o homem que matou Liberty Valance, e esse homem é John Wayne) perde a rapariga para o rival. E a ‘tristeza infinita’ daquele homem (JBC), que precede a raiva violentissima (‘contra si próprio e contra o destino’, JBC outra vez) está toda expressa neste plano: John Wayne, o duro, recto e cínico cowboy de tantos e tantos filmes, que perdeu a mulher que ama. (Harry Madox)

O próximo convidado é o hg.

sábado, 12 de março de 2011


Sellers, Carrey - Carrey, Sellers*


Being There (1979), de Hal Ashby

The Truman Show (1998)

* caminhar sobre as águas..

quarta-feira, 2 de março de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

2ª série dos Planos (IV)


I / II / III

Uma ou duas vezes por semana (reparo que não tem sido muito assim, mas faz-se o que se pode), convido bloggers a escolher um plano e a falar também sobre ele. O quarto convidado é José Bértolo, do Interlúdio, que escolheu o primeiro plano de Odete, de João Pedro Rodrigues.



"Queria ter podido falar sobre toda a sequência inicial do filme, mas obrigam-me as regras do jogo a indicar apenas um plano, pelo que escolho este inicial, até ao primeiro corte.


Não se trata de um plano-sequência particularmente virtuoso, mas o virtuosismo nunca foi o meu forte (embora Ophüls seja um dos meus homens), pelo que não importa. O verdadeiramente impressionante nesta cena é o modo como atribui sentidos a todo o filme que lhe segue. Está lá tudo o que importa: o beijo (a fisicalidade do amor), o anel (o amor como símbolo de um sítio onde as almas se juntam, tornam-se iguais), Moon River (o amor filtrado pela memória do cinema). Quando Pedro diz «amo-te» e Rui responde «vais ter que me provar isso», está-se a definir o filme: uma prova de amor. Talvez não haja algo mais romântico que o regresso do mundo dos mortos para se unir ao amado (embora Orfeu rivalize). E sempre gostei de estruturas circulares (Ophüls outra vez): esta cena inicial será repetida, com variações óbvias, no final, antes do epílogo. É um filme em que se percorre um longo caminho para se chegar ao mesmo sítio, aquele em que duas pessoas coexistem simplesmente. Esta sequência é isto." (José Bértolo)


A quem interessar, o José publicou uma análise a toda a sequência, no Interlúdio.


O próximo convidado é o Harry Madox