sábado, 10 de abril de 2010

António



Vimos pedir-te as tuas memórias. Para começar, e como ligação aos testemunhos que temos de outros alunos, pedimos-te que nos fales das tuas memórias da Escola de Cinema.


Julgo que o António Reis se tornou professor da Escola em 1977. Eu entrei no ano lectivo de 1981/1982. As aulas só começaram a funcionar no ano de ’82, mas no meu primeiro ano o António estava a filmar o Ana com a Margarida, e não deu as primeiras aulas da cadeira. Os colegas dos anos anteriores falavam muito do António Reis, falavam dele como sendo uma figura mítica, na Escola. E lembro-me então que numa tarde estávamos a visionar uma cópia do Intolerance do Griffith numa mesa de montagem, para fazermos um trabalho sobre uma determinada cena para uma cadeira do Alberto Seixas Santos. Estavam para aí uns 8 ou 10 alunos da turma à volta da mesa, muito à vontade, digamos, a andar com o filme para trás e para a frente, possivelmente algum teria os pés em cima da mesa, outros estavam apoiados com o cotovelo, alguns fumávamos. E às tantas a porta da sala, que ficava nas nossas costas, abriu e quase sem darmos por isso alguém entrou. Virámo-nos e vimos uma pessoa assim para o franzino, muito frágil, com o seu bonezinho, e ninguém sabia quem era. Nenhum de nós o reconheceu. Pensámos que era um jardineiro, ou assim. Ele cumprimenta-nos, e pergunta o que estamos a fazer. Nós explicamos, tratando-o como um curioso qualquer. Se calhar a nossa atitude não foi muito de aluno para com professor, e às tantas ele começa a dizer, exaltado (que era uma característica que ele tinha porque gostava muito das coisas), que não era assim que se tratava um filme, não era assim que se estava numa sala de montagem. Ripostámos. E gerou-se ali uma certa tensão. Até que ele diz que é o António Reis, e ficámos todos... caladinhos! Foi assim que o conheci. Tinha ido lá, fora do tempo das aulas, para se apresentar, dizer que voltava à Escola, e que nos iria dar aulas.


Manuel Mozos

3 comentários:

Álvaro Martins disse...

Tenho aqui o 4 Copas para ver mas ainda não tive tempo. Nunca vi nada de Mouzos e estou muito espectante para ver, mas é difícil encontrar na net.

João Palhares disse...

Pois é, eu ando há um eternidade à procura do "Xavier". Quero imenso ver esse filme...
o "4 Copas" vale pelas personagens, sobretudo a da Rita Martins.

Álvaro Martins disse...

Esse nem no KG se arranja.