segunda-feira, 30 de julho de 2018

THE SEA WOLF (1941)


1941 – USA (100’) ● Prod. Warner (Jack Warner, Hal B. Wallis, Henry Blanke) ● Real. MICHAEL CURTIZ ● Gui. Robert Rossen a p. do R. de Jack London ● Fot. Sol Polito ● Mús. Erich Wolfgang Korngold ● Int. Edward G. Robinson (Wolf Larsen), John Garfield (George Leach), Ida Lupino (Ruth Webster), Alexander Knox (Humphrey Van Weyden), Gene Lockhart (Dr. Louie Prescott), Barry Fitzgerald (Cooky), Stanley Ridges (Johnson), Francis McDonald (Svenson), David Bruce (jovem marinheiro), Howard Da Silva (Harrison). 

São Francisco, 1900. Perseguido pela polícia, George Leach aceita entrar na tripulação do barco de pesca « The Ghost », apesar da sua reputação execrável. Ao largo de São Francisco, um transatlântico choca com outra embarcação : dois viajantes, o escritor Humphrey Van Weyden e Ruth Webster, evadida de uma prisão feminina, escapam milagrosamente à catástrofe e são recolhidos pelo « Ghost ». O seu temível capitão, Wolf Larsen, declara imediatamente aos dois náufragos que têm de permanecer a bordo durante toda a travessia porque ele não tem intenção alguma em perder tempo a voltar para Frisco. Quanto a contactar outro navio, está fora de questão. Van Weyden vai encontrar matéria ampla para reflexão (e para escrita) na personalidade tirânica e contraditória de Larson, cujo ego monstruoso se alimenta das humilhações constantes que inflige aos seus homens, prisioneiros do seu universo paranóico e impiedoso. A muitos deles não faltam traços pitorescos : como o cozinheiro para o qual é um prazer denunciar a Larsen tudo o que se maquina a bordo contra ele, ou então o doutor caído e alcoólico Louie Prescott, que Leach vai no entanto convencer a tratar Ruth Webster praticando nela uma transfusão de sangue, que a vai salvar. Depois desta proeza, Prescott, ainda mais humilhado do que é costume por Larsen, vai subir ao topo do mastro principal e, depois de dizer umas quantas verdades ao capitão, lança-se para o vazio. Antes de morrer, informou nomeadamente a tripulação que o « The Ghost » se dedicava à pirataria e não à pesca e que um dia ou outro o navio seria atacado pelo irmão de Larsen, que tem um ódio feroz por este último. Um primeiro motim levado a cabo por Leach, falha. Durante a noite, um pequeno grupo de homens atacam Larsen e o imediato e atiram-nos ao mar. Mas Larsen, que parece invulnerável, encontra forças para voltar a subir a bordo. Recupera a « estima » da tripulação prometendo a cada homem uma boa parte dos despojos e entregando-lhes o seu delator, o cozinheiro. Este é imediatamente atirado borda fora e será devorado a meio pelos tubarões. Leach, Van Weyden e Ruth metem um barco no mar e afastam-se do « Ghost ». Mas Larsen, que tinha adivinhado o plano deles, misturou vinagre às suas provisões de água. É preciso voltar para o « Ghost », que já não passa de destroços a afundarem-se lentamente nas águas depois do sangrento combate que teve de travar contra o « Macedonia », a embarcação do irmão de Larsen. Leach sobe a bordo. Larsen fecha-o numa cabina. Sujeito anteriormente a enxaquecas violentas e a acessos repentinos de cegueira, Larsen está agora definitivamente cego. Dispara sobre Van Weyden, que lhe vai conseguir esconder que foi atingido mortalmente. Ao preço de um truque final, o escritor troca a sua vida pela libertação de Leach. Leach junta-se a Ruth no barco : eles vêem os destroços a afundarem-se completamente no mar, levando consigo o seu capitão cego e o escritor idealista e corajoso que jamais poderá contar a sua história. 

► Pode-se considerar este filme a obra-prima de Curtiz. É certo que assinou muitas, mas o seu ecletismo, o seu gosto pelos leques de cores e convenções de Hollywood, que usou enquanto figuras de estilo, esconderam muitas vezes a sua verdadeira personalidade : achamos que ela aparece aqui de forma mais nítida do que noutros lugares. Esta adaptação do grande romance de Jack London, construída de forma admirável por Robert Rossen e em que a condensação da acção e o aprofundamento da patologia das personagens são prodigiosos, serviu-lhe para ir mais longe na descoberta do seu próprio universo. A maior parte dos seus filmes têm uma aspereza no toque, uma dureza no traço que a ênfase colocada sobre os heróis positivos tendia a corrigir ou a apagar, a maior parte das vezes. Aqui, o espeto de amaldiçoados, de criaturas caídas e abandonadas pelos deuses, que ele reuniu na sua embarcação fantasma, entre uma penumbra fantástica e cruel, não deixa dúvida alguma sobre a visão impiedosamente negra que tinha do universo, dificilmente iluminada por uma esperança tenaz no triunfo final do humanismo. Escrito e realizado no início da Segunda Guerra Mundial, The Sea Wolf também é a denúncia mais convincente do fascismo, da ditadura e de todas as doenças do poder que se fez no cinema. Curtiz e Rossen não dão sermões : mostram. E a verdade amarga da sua pintura encarna-se num elenco particularmente inteligente e brilhante. E.G. Robinson, Alexander Knox, John Garfield, Ida Lupino, Barry Fitzgerald e Gene Lockhart encontram todos em The Sea Wolf um dos papéis mais completos e mais surpreendentes da sua carreira. 

N.B. O romance de Jack London foi várias vezes adaptado : por Hobart Bosworth (1913), por George Melford (1920), por Ralph Ince (1925), por Alfred Santell (1930) e sob a forma de western, Barricade, Barricada, por Peter Godfrey (1950). Acrescente-se, em 1958, Wolf Larsen de Harmon Jones, e em Itália, Il lupo dei mari de Giuseppe Vari (1975). 

Jacques Lourcelles, in « Dictionnaire du Cinéma - Les Films », Robert Laffont, Paris, 1992

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