O que mais gosto em "Rio Vermelho" de Howard Hawks não é a interpretação de John Wayne (que aliás é soberba - assim como é tudo o que vou enumerar a seguir), nem a de Montgomery Clift ou do resto do elenco. Não é o argumento de Borden Chase (Borden Chase escreveu o argumento para um filme de Anthony Mann que eu acho magnífico e cuja história se assemelha a este "Red River" - "Bend of the River") e Charles Schnee, nem a realização apurada de Hawks. Não é a música de Dmiotri Tiomkin e não é a fotografia de Russel Harlan.
Não, o que eu mais gosto no filme (e será porventura por o ter visto tantas vezes) é o percurso que um determinado objecto faz no filme ( esse percurso sustenta aliás toda a acção do filme ). A pulseira da mãe do personagem de John Wayne, Dunson (não vemos a pobre senhora, Dunson apenas refere esse facto). Passa a pulseira de mão em mão, então. De Dunson para a sua amada, da sua amada para os índios e para Dunson outra vez. Passam uns anos, vemos a pulseira com Matt (Montgomery Clift, filho adoptivo de Dunson), e a história repete-se...
Dizer que o melhor de um filme é uma pulseira, não é ter esse filme em grande conta, pensarão vocês. No entanto, quando me lembro de "Red River" é nisso que penso. A pulseira é aliás importantíssima para todas as personagens (Dunson principalmente), e a partir dela podem-se definir várias relações entre personagens: Dunson-Matt e destes dois com as mulheres das suas vidas, Tess e Fen (Joanne Dru e Coleen Gray, respectivamente). Dunson dá a pulseira a Fen, mas esta é-lhe devolvida (Dunson encontra a pulseira na mão de um índio deduzindo então que Fen está morta), Matt dá a pulseira a Tess e a pulseira fica com ela (Matt consegue então fazer aquilo que Dunson não conseguiu: assentar).
Mas não só disto vive "Red River". Há ainda a travessia da manada de Dunson pelo oeste, e da sua tirania para com os homens que o ajudam. A personagem de Dunson é tão fascinante como violenta, viu o seu negócio arruinado no Texas (a cotação do gado é baixíssima) e começou uma demanda pelo "Rio Vermelho" do título, e é na imensidão deste rio, na sua costa, que se passa a maior parte do filme.
No final, "Red River" é um épico da envergadura do próprio empreendimento que relata, um western arquétipo de tantos outros depois dele e que instituiu John Wayne como figura eterna do oeste. É Shakespeare no Oeste.
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