sábado, 31 de outubro de 2009

Halloween, Halloween....



Porque é no filme de Carpenter que penso quando ouço ou leio a palavra e não na festa que, para mim, não tem interesse nenhum...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009


"Dancing does attract effeminate young men. I don't object to that as long as they don't dance effeminately. I just say that if a man dances effeminately he dances badly — just as if a woman comes out on stage and starts to sing bass. Unfortunately people confuse gracefulness with softness. John Wayne is a graceful man and so are some of the great ball players...but, of course, they don't run the risk of being called sissies."

Gene Kelly

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Kelly / Donen - 1955

"I Was a Male War Bride" - 1949







"Do you wanna go to Bad with me?"

Howard Hawks foi um génio, já aqui o disse e hei de continuar a dizer. É um dos meus cineastas preferidos e não houve nenhum filme dele que não gostasse - até um filme como Red Line 7000 tem, para mim, coisas brilhantes.
Em 49, Hawks fez outra obra-prima. Chama-se "I Was a Male War Bride" e, como podem imaginar, foi feito numa altura em que não se podia falar em sexo. Ora, no filme não se fala em mais nada senão em sexo. Por meias palavras, por sinais, por metáforas, é verdade. Mas é esse o tema, esse e o sempre actual tema Homem vs. Mulher (tema caro, também, a George Cukor e Frank Capra). Hawks cita, aliás, Capra como grande influência, particularmente com "It Happened One Night". Não querendo parecer esquisito, a verdade é que sempre preferi Hawks a Capra, e acho que este "I Was a Male Bride" tem mais carga sexual do que as comédias "screwball" de Frank Capra todas juntas (ainda assim, acho "Mr. Smith Goes to Washington" um filme extraordinário).
Em "War Bride", os papéis estão trocados e não se sabe, mesmo, quem é a "noiva de guerra": se Grant, se Sheridan, e é essa ambiguidade sexual que tanto encanto dá ao filme. Mas como se isso não bastasse, é uma crítica desenfreada ao establishment e à burocracia do exército norte-americano ("I am an alien spouse of female military personnel en route to the United States under public law 271 of the Congress."). Sem mais delongas, deixo a palavra a Bénard da Costa:

" (...) Entre o homem que nunca sabe qual é o seu estatuto nem qual é o seu lugar (pense-se na fabulosa sequência, digna de desenhos animados, em que a moto se põe em marcha sozinha, arrastando Grant semi-adormecido e contornando todos os obstáculos até se enfiar no monte de palha) e a mulher cujo estatuto lhe não permite sequer o contacto com as roupas do seu sexo nem com o corpo do sexo oposto (reacções físicas às aproximações de Grant) esta assombrosa comédia não fala de outra coisa senão do desacerto total e a todos os níveis de qualquer possibilidade de comunicação: desacerto entre o homem e a mulher, desacerto entre o homem feito mulher e a mulher feita homem. E, sob a aparente desenvoltura, o que fica é uma das mais formidáveis charges à sociedade americana (eficiência, puritanismo, matriarcado) em que o visto contradiz incessantemente o dito. O exemplo mais brilhante é a primeira noite dos protagonistas na estalagem. Quem vir - como nós vimos - sabe que não se passa nada. Mas quem fechar os olhos e se limitar a ouvir a banda sonora (pasmosos e elípticos diálogos e silêncios) jamais acreditará - como a criada não acreditou - que a noite tenha sido casta. A solo é um dos mais ousados diálogos de Hollywood. Experimentem, caso já conheçam o filme, ouvir mais do que ver.
A situação repete-se no dia seguinte, na cave, quando a Tenente quer experimentar como são os famosos beijos dos franceses. "A french kiss" é uma expressão internacional com conotação bem precisa. Poucas dúvidas haverá que é isso o que Ann Sheridan quer experimentar ("all we`ve done together, all we`ve not done together") e o que vai insinuando com aqueles "people say... people talk...". E se volta a ser melhor quando há colaboração (leit-motiv constante da obra de Hawks) é prodigiosa a elipse final (que oculta o beijo francês ou o beijo do francês) e determina o casamento.
Muito haveria a dizer sobre o prodigioso gag da mão de Cary Grant, essa mão que ele não consegue baixar. Mas o clou é a consumação final sob a imagem da Estátua da Liberdade, de que já se disse ser a mais amarga imagem da obra de Hawks sobre o seu próprio país e a civilização que simboliza. Ao menos a essa Estátua, ninguém lhe desce o facho, nem ninguém a impede de o erguer triunfalmente."

Hawks é o cineasta preferido de Carpenter e de Rivette. Hoje é o meu, também....

domingo, 25 de outubro de 2009

"O Sangue" - 1989







A noite estava escura
e não tinha luar
Ouvimos lá ao longe
o lobo a uivar
aú, aú, aú, aú, aú
aú, aú, aú, aú, aú

Laughton, Tourneur, Ray, Bresson e Murnau. E no fim, é tudo Costa, hora e meia de enigmas, fábulas e mistérios. Primeira obra, e muito poucos as fizeram assim (Ray, Welles), é também obra-prima, e um dos mais fabulosos filmes (portugueses e não só) já feitos.
É construído à volta do número três: três são Nino, Vicente e seu pai, três são os irmãos e Clara, três são os homens e a mulher do passado do Pai e, finalmente, são três as crianças que nos aparecem em grande plano no início do filme. É com o número três e, particularmente, com o trio Clara/Nino/Vicente que Costa se aproxima de Ray e do trio Jim/Judy/Plato de "Rebel Without a Cause". Mas Costa aproxima-se distanciando-se (ou ao contrário), e se podemos falar de uma família estética do realizador para "o Sangue", a verdade é que ele a mata (no fim, é tudo Costa, é tudo de Costa), tal como Vicente mata o seu pai.

"O Sangue" é um sem fim de perguntas sem resposta: Qual é a maior invenção do Homem (o cinema?), quem são Nino, Vicente e Clara. O que é "O SANGUE"?
É um mistério perpétuo como todos os grandes filmes o são... (e é isto que me apetece dizer agora...)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Arena" + "Taking Woodstock" - 2009





Começa "Arena": 

- "Será que estamos na sala errada?"; "Um filme português?"; "Porque é que estamos a ver isto?" - "Porque sim!, é por isso que estamos a ver isto!!"; risos e insultos vários, e no final um explêndido: "se fosse eu a escrever isto..."

Começa "Taking Woodstock":

Silêncio absoluto para o génio (também absoluto) de Ang Lee....

Mas fora tudo isto, é a diferença entre um pequeno GRANDE Filme e um grande pequeno filme (e como é óbvia essa diferença). Aprendi mais sobre pessoas na curta de Salaviza, que tem cinco, do que no desfile de milhares do filme de Ang Lee, que é pobre em todos os sentidos. 

* e detestei aquela dita homenagem ao Grande GRANDE documentário de Michael Wadleigh (falta de ideias é o que dá), e o filme não descola dos Chavões e dos estereótipos. O "Arena" é brilhante: estudo social, da culpa e da violência num mundo em que nada é simples, o nosso. Tudo em 15 minutos...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Uma Viagem Pelo Musical - 8 (Final)



Há que dizer que, entre "posts" da enorme "Viagem Pelo Musical", vi "Show Boat" de James Whale e "It`s Always Fair Weather" de Kelly e Donen (e como Kelly é tão importante para Donen), duas obras-primas do Musical. Além daquele que é, para mim, o melhor Musical de sempre - "Yolanda and the Thief". Eis então, as 15 obras-primas do Musical e as 10 que, sendo do Musical, também o são do Cinema:

As 15:

Gold Diggers of 1933 (1933) de Mervyn LeRoy
Show Boat (1936) de James Whale
Cover Girl (1944) de Charles Vidor
Anchors Aweigh (1945) de George Sidney
The Pirate (1948) de Vincente Minnelli
On The Town (1949) de Stanley Donen e Gene Kelly
Carmen Jones (1954) de Otto Preminger
A Star is Born (1954) de George Cukor
Guys and Dolls (1955) de Joseph L. Mankiewicz
Artists and Models (1955) de Frank Tashlin
Une Femme est une femme (1961) de Jean Luc Godard
Les Parapluies de Cherbourg (1964) de Jacques Demy
New York, New York (1977) de Martin Scorsese
All That Jazz (1979) de Bob Fosse
One From The Heart (1982) de Francis Coppola

As 10:

The Wizard of Oz (1939) de Victor Fleming
Meet Me in St. Louis (1944) de Vincente Minnelli
Yolanda and the Thief (1945) de Vincente Minnelli
Singin` in The Rain (1952) de Donen e Kelly
Gentlemen Prefer Blondes (1953) de Howard Hawks
The Band Wagon (1953) de Vincente Minnelli
Brigadoon (1953) de Vincente Minnelli
It`s Always Fair Weather (1955) de Donen e Kelly
Bells Are Ringing (1960) de Vincente Minnelli
Les Demoiselles de Rochefort (1967) de Jacques Demy

FINALE

Uma Viagem Pelo Musical - 7




O Musical, na década de 80, atravessava a maior crise de sempre. E daí em diante, nunca mais foi o mesmo: durante os quase 30 anos que este "post" aborda, os Musicais "andavam" entre o medíocre e o meramente interessante - da nulidade da obra de Alan Parker (sejam musicais ou não, se bem que não tenhaa visto "Evita") ao mais que péssimo "Mamma Mia", passando pelas interessantes (re)visões que são "Chicago" e "Moulin Rouge" (mas a anos luz de "New York, New York", por exemplo). Para grande infelicidade minha, não vi os últimos Musicais de Jacques Demy, nem a única incursão de Jacques Rivette pelo Musical: "Haut Bas Fragile", de 1995.


Se bem que o legado do Musical se fizesse sentir em muitos filmes fora do género (bons e maus) - da obra de Fernando Lopes à de Moretti, passando pelos videoclips e as filiações que alguns artistas pretendiam marcar com stars dos "fifties": "Material Girl" de Madonna (Monroe e "Gentleman Prefer Blondes") e "Smooth Criminal" de Michael Jackson (Astaire e "The Band Wagon"). 
No panorama de mediocridade e mero interesse destes anos, 4 obras se destacaram. Grandes Musicais? Não, se bem que para um me restem ainda dúvidas, por ter sido feito por um génio.
1. "School Daze" de Spike Lee, de 1988. É o segundo filme de um realizador que, acredite-se ou não, está bastante ligado ao Musical - "She`s Gotta Have It" (o primeiro de Lee) tinha já um número musical e "Malcolm X", na sua imensa confluência de géneros, tinha alguns, também. "School Daze" é o anti-Fame (estreou agora o remake) e o anti-Grease, o anti-praxe. É o anti-simplicidade (seja das emoções ou da sociedade), mas não é, infelizmente, mais que isso. Não é o pior filme de Lee, mas está abaixo dos grandes momentos do talentosíssimo cineasta de Nova Iorque ("She`s Gotta Have It", "Do The Right Thing", "Jungle Fever", "Malcolm X" e "The 25th Hour").


2. "Everyone Says I Love You" de Woody Allen, de 1996. O título referencia uma canção dos irmãos Marx e o filme é, todo ele, uma homenagem ao Género sem, ainda assim, deixar de ser eminentemente "alleniano".


3. "Dancer In The Dark" de Lars Von Trier, de 2000. Chama-se assim para referenciar o número "Dancing in the Dark" (com Astaire e Charise), em "The Band Wagon". Ganhou a Palma de Ouro em Cannes, e encerrou o Milénio em onda de tristeza e fatalismo.

* e no que toca a Trier já estou como diz Jacques Rivette, o gajo sabe que tem talento, mas vive (e há de viver sempre) à sombra de Dreyer. O que não quer dizer que não tenha feito pelo menos uma obra-prima, Dogville.


4. "Pas Sur La Bouche" de Alain Resnais, de 2003. Resnais é um génio, e é por isso que me custa não gostar deste filme como gostei (adorei!) de "Hiroshima Mon Amour" ou "Providence". Adapta um livreto dos anos 20 e é moderníssimo. Filme de público sem deixar de ser de autor (a distinção não faz aqui sentido), e na melhor tradição do Cinema de Lubitsch - Resnais passou, até, um filme do alemão durante as rodagens. Comédia de costumes, divertimento ou momento de lazer de um dos maiores cineastas de sempre? Genial? Agora não consigo responder, mas sei que é melhor que os outros três filmes deste sétimo "post".


Fim da 7ª Parte

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

2004, 2004....


Ano de dois prodigiosos argumentos, pelos vistos: "Crash" e "Sideways": e se há coisas que eu goste menos que maus filmes, são filmes pretensiosos, coisas pequenas que se acham capazes de altos voos, filmes ultra-condescendentes... Argumentistas/realizadores, pois... (onde andam os herdeiros de Wilder e de Fuller na América? só há Paul Thomas Anderson?). Têm bons actores? Claro que sim, mas isso não chega, nunca chegou.
Nesse ano saiu "Spider Man 2" de Sam Raimi. É mau, mas gostei mais...

O Scorsese, o Lee (Spike) e o Mann resolveram fazer os seus piores filmes nesse ano: "Collateral", "The Aviator" e "She Hate Me" (não os acho maus, atenção!), o Depp e o Foxx fizeram grandes papéis em péssimos filmes ("Neverland" e "Ray"), o Pitt lutou contra os troianos e o Damon contra todos em Supremacia, o Nichols e o Jeunet brindaram-nos com mais dos seus filmes de autor (o Ed Wood é mais autor que eles juntos), e claro!, veio o filme do "twist" por excelência: "Saw".

Mas nem tudo foi mau, e nos Óscares ganhou (coisa rara) aquele que era, de facto, o melhor dos nomeados: "Million Dollar Baby". Houve "The Terminal" de Steven Spielberg (homenagem a Tati e Lewis, ao mesmo tempo) e "Hotel Rwanda" de Terry George (e preferia que tivesse sido Cheadle a ganhar o Óscar, não Foxx). Adorei "La Demoiselle d`Honneur" de Chabrol, "Before Sunset" de Linklater e gostei do "2046".

Mas, acima de tudo, 2004 é o ano de uma obra nuclear do Cinema Português, "O Quinto Império". O subtítulo é "Ontem Como Hoje" e é o filme onde Paredes, Camões, Pessoa, Régio e Oliveira se encontram, onde o povo português se encontra a si mesmo, através da figura de D. Sebastião... Oliveira, no Presente ("Ontem como HOJE"), pensa, analisa o Passado, com olhos postos no Futuro... Teatro filmado ou Cinema encenado... A confirmação de Oliveira como um verdadeiro cineasta da Palavra (Rivette, Dreyer).
É o melhor filme de 2004, e um dos melhores do seu autor...