sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"Invictus" - 2009


Não é dos melhores Eastwoods (prefirirei sempre os minimalismos imensos e imensamente complexos de "White Hunter Black Heart", "Unforgiven", "The Bridges of Madison County" e "Gran Torino"), e sem me alongar pela humanidade (a sua representação, claro) que transborda por tudo quanto é lado, pela história dos dois líderes (Mandela e Piennar) em tudo iguais e em tudo diferentes e, depois, por pormenores como a criança a tentar aproximar-se dos polícias para ouvir o relato e o treino da equipa da África do Sul num dos muitos bairros pobres do país, digo, apenas, que não mais insultarei o rugby. É uma promessa...

Ah, estavam duas pessoas a ver o filme na estreia, um branco e um negro e, pronto, foi a minha maior experiência em sala este ano. O filme teve tão maior impacto assim, parecia trespassar o ecrã a cada cena que passava...

* É um Eastwood menor, completamente (aliás, o último assim tão como foi, mesmo, o "Blood Work"), mas é um bom filme, ainda assim. E oponho o pior Eastwood ao melhor haggis, eheh...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"Va Savoir" - 2001













"Ugo: "Il doit y avoir une ordre"
Dominique: Oui, il doit, mais quel? Allez savoir..."

Jacques Rivette é, para mim e junto com Alain Resnais, o mais fascinante dos cineastas da Nouvelle Vague (ainda não consigo aceder aos filmes de Jean Luc Godard - se é que é esse o problema - gosto dos filmes do Truffaut e do Chabrol e não conheço bem a obra de Eric Rohmer) e, claro, numa altura em que "auteur" e "mise en scène" são usados para descrever a obra de qualquer um (o que eles queriam, nos anos 50, era descobrir os impostores), louvado seja ele por nos mostrar, mesmo que seja de 3 em 3 anos, o que essas palavras significam e quão belas são, também.

"Va savoir" é o Teatro, a Literatura e o Cinema num círculo de convivências que dá pelo nome de Vida. Viver é interpretar, é encenar e o palco, uma extensão da vida (ou a Vida uma extensão do Palco). "Va savoir" são 6 personagens numa teia de enganos e desenganos (Lubitsch, Hawks), assentes em perfeitas dramaturgia e encenação. Mesmo num filme menor, Rivette consegue-nos "prender" às personagens e ao seu mundo circundante, unindo-as (e a nós, por extensão) à crença de que não há situações isoladas, tudo se alimenta, tudo se conflui num ciclo sem fim. "Senza Fine".

P.S. Posso falar em ciclos e extensões, personagens e convivências mas tais palavras nunca farão justiça a um filme. "Va Savoir" é "Va savoir", como "Rio Bravo" é "Rio Bravo" ou "Vertigo" é "Vertigo". São filmes, valem por si sós e são, sempre, a avaliação estética e equivalente deles mesmos.
(Ah, Jeanne Balibar...)

domingo, 24 de janeiro de 2010

"お早よう" (Bom dia) - 1959



"Ohayo" (Bom dia) é uma espécie de remake de "Eu Nasci, Mas...", e é outra obra-prima. Retrato social de uma pequena comunidade e da reacção desta (particularmente das duas crianças e dos pais destas) à modernidade - o velho contra o novo e o mais humano dos filmes, "o mais belo dos filmes"...
A greve de silêncio, o conflito entre gerações (três) e dos seus valores e ideais - e todas estas coisas aconteceram por uma coisa: as dúvidas e discussões à volta do acto do cumprimento e da saudação, as crianças falam demais mas os adultos, também, e às vezes de forma absurda.
Longe do descontentamento do original (em que os jovens se tinham que contentar com uma vida sem brilho e, portanto, sem projectos e esperanças), "Bom Dia" é de um optimismo inigualável e (outra vez) de uma simplicidade inalcançável.
No fim quem tem razão? - os adultos e a sequência da estação prova-o (ah aquele campo / contra-campo), mas quem ganha? - as crianças e aquela cena de reconciliação e de um estado de suprema felicidade, prova-o...
Não vivemos num mundo da mais absoluta inocência nem num da mais absoluta maturidade, mas algures no meio...
Numa nota pessoal: é em "Ohayo" que Tati, Hawks e Ozu se encontram?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Cross of Iron" - 1977



Cross of Iron” (ou A Grande Batalha, o muito inspirado título português) é o único filme de guerra de Sam Peckinpah e retrata um pelotão não americano, mas alemão, liderado por Rolf Steiner (James Coburn), durante a 2ª Guerra Mundial. Anárquico tematicamente mas, também, estilisticamente, “Cross of Iron” é o filme, formalmente, mais radical do seu realizador. Violento, sim, mas anti-violência como (acredite-se ou não) todo e qualquer filme de Peckinpah: Orson Welles, depois de ter visto o filme achou-o o melhor filme anti-guerra alguma vez feito (pode não o ser, mas estará lá perto). Fora isso, é um “chupem-me” à montagem e narrativas tradicionais e aos produtores e estúdios que tanto atormentaram Peckinpah. E a Hitler, também, claro está...

sábado, 16 de janeiro de 2010

No ípsilon de 15 de Janeiro:


"(...) Não querendo ser inteiramente irónico, isso até faz sentido: o cinema de Peckinpah só poderia ser visto em ecrãs grandes e magníficos, mesmo se as cópias se partissem, tivessem riscos, faltassem fotogramas e planos ou até cenas inteiras e essas salas já as considerassem obsoletas, com muitos lugares vazios e em vertiginosa decadência, denunciando a passagem do tempo e prenunciando o seu fim com a chegada de outro tempo. Assim são também os filmes de Peckinpah, as histórias dos seus personagens, heróis anti-heróis crepusculares, resistindo estoica e romanticamente ao seu próprio apagamento e à aniquilação dos seus mundos. (...)"

Manuel Mozos

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"秋刀魚の味" (O Gosto do Saké) - 1962


Yasujiro Ozu nasceu no bairro de Fukugawa, Tóquio, a 12 de Dezembro de 1903. Aos 20 anos ingressou nos estúdios da Sochiku (na altura ainda a começar) como assistente de câmara e é lá que conhece Mikio Naruse, bem como alguns dos seus futuros colaboradores - Kigo Noda, argumentista, e Hideo Mohara, director de fotografia. Trabalhando como assistente de realização, escritor de "gags" e como argumentista, acaba por realizar, em 1927, o seu primeiro filme (hoje está perdido): "A Espada da Penitência". Faria mais 53 filmes até à sua morte, em 1962, incluindo obras-primas tão maravilhosas como "Eu Nasci, mas...", "Tarde de Outono" e, claro, "O Gosto do Saké":


Porque é entre bares, nas mesas e balcões, e casas e escritórios, que tudo se passa, onde se decidem todas as coisas e se percorre toda a vida - das crises conjugais às familiares, da solidão à morte e da alegria à tristeza, o humor e o drama - tudo isto construído, erigido por uma visão única do Cinema e da própria Vida, "reduzida" às personagens e às pessoas, passando pelas elipses narrativas, pela composição de planos e, claro, pela câmara fixa, por uma mise en scène quase invisível (mas sempre presente) e de uma simplicidade inalcançável.
Ozu é um génio e "Sanma no aji" um dos melhores filmes finais já feitos, seja testamento ou não...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

RIP Eric Rohmer


Morreu um dos mais importantes cineastas associados à Nouvelle Vague, aos 89 anos. Autor de filmes como "Ma Nuit chez Maud", "La Collectionneuse" e este "Perceval le Gallois"... Fica a obra connosco..

domingo, 3 de janeiro de 2010

"Break the windows!"

* o êxtase filmado por Minnelli, em crescendo. Bovary e a procura por Beleza, por felicidade na Vida e por 5 minutos, isso foi possível... por 5 minutos, as ilusões e os desejos de Ema foram Verdade. Jones, Minnelli e Miklos Rozsa, juntos...

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Espaço...


"2001 - A Space Odissey" - 1968

"Солярис (Solaris)" - 1972

O Homem a aventurar-se pelo espaço, pelo Infinito e a descobrir-se a si próprio. O final da odisseia é um regresso a casa e depois de uma jornada de adaptação, depois de vários sacrifícios, a segurança, a protecção, Ele acaba em "uno" com o Universo e com o Desconhecido ao se descobrir em pleno. De si para Tudo, e tem tudo para si... Encontra o Sentido, o Motivo da Vida? - É possível...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Emil Anton Bundman A.K.A. Anthony Mann


Os Westerns de Anthony Mann*

Emil Anton Bundman nasceu a 30 de Junho de 1906, em S.Diego, na California. Começou como actor em Nova Iorque, mas em 1938 foi para Hollywood, juntando-se à Selznick International Pictures como director de castings, onde filmou screen tests para “Rebecca” de Alfred Hitchcock e para “Gone With the Wind” de Victor Fleming (e de uma data de outros realizadores). Nos anos 40, filmou uma série de film noir`s para a RKO, para a Eagle-Lion Films e outras companhias – alguns estão em domínio público – mas foram os seus westerns que o afirmaram e registaram (ou deviam registar - já lá vamos) como nome fundamental do Cinema Americano.

Fez 11 filmes dentro desse género, sendo o primeiro “Winchester 73” (primeiro filme da longa e estimulante colaboração com James Stewart – 8 filmes, 5 dos quais westerns) , estudo enigmático em torno da ganância e cuja narrativa gira em torno da Winchester do título (ela está sempre em campo narrativo), e o último, “Cimarron”, remake de um western de 31 (que venceu o Óscar de melhor filme nesse ano) mas que não é tão bom como podia ser por interferência do estúdio (M.G.M.). Pelo meio fez coisas tão prodigiosas como “Bend of the River” de 53 ou “Man of the West” de 58, dois dos melhores westerns de sempre (“Rio Bravo” e “The Searchers” incluídos). Estes últimos dois filmes, bem como “The Naked Spur”, “Winchester 73” e “The Man from Laramie”, estão associados a uma visão do mundo (coeso estética e moralmente) por parte do seu autor e a uma revolução em termos de representação do Homem (em geral) e do Oeste, que antecipa, mesmo, o cinismo e o desencantamento de realizadores como Sam Peckinpah ou Clint Eastwood.



Numa entrevista em 1967 (ano da sua morte), quando questionado sobre o ponto de partida para “The Naked Spur”, Mann disse isto:

We were in magnificent countryside–in Durango–and everything lent itself to improvisation. I never understood why almost all westerns are shot in desert landscapes! John Ford, for example, adores Monument Valley, but I know Monument Valley very well and it’s not the whole west. In fact, the desert represents only one part of the American west. I wanted to show the mountains, the waterfalls, the forested areas, the snowy summits–in short to rediscover the whole Daniel Boone atmosphere: the characters emerge more fully from such an environment. In that sense the shooting of The Naked Spur gave me some genuine satisfaction.”

Mann foi, parece-me, o primeiro a distanciar-se da paisagem dominante no western (as grandes pradarias e os desertos – Monument Valley) e, portanto, de John Ford. Em Ford as paisagens são abertas, por assim dizer, em Mann (como em Hawks, mas de maneira diferente) elas são fechadas e de um sufoco inacreditável. Isto permite, em “The Naked Spur” (e, de certa forma em todos estes filmes, exceptuando, talvez, “The Man From Laramie” - o mais “fordiano” dos cinco) um paradoxo admirável – num filme rodado inteiramente em exteriores, os sentimentos predominantes são os da claustrofobia e do desespero. As sequências finais dos restantes quatro filmes também são assim. Um ano antes, em “The Bend of the river”, Mann filmou um confronto final num rio, com uma raiva e violência tremendas, a água, nesse confronto, era tão importante e geradora de conflito como os homens que se enfrentavam– e o Glyn Mclyntock (Stewart) de “Bend of the river” é, a par com o Linc Jones de “Man of the West”, o herói mais violento dos westerns de Mann. Os duelos nas montanhas em “Winchester 73” e em “The Man from Laramie” e, claro, em “Man of the West” são de uma força incrível, porque essas montanhas, como de resto a paisagem, em Mann são quase personagens e, como nota Robin Wood, “are barren rock, not even safe cover, with bullets ricocheting in every direction”. A paisagem em Mann não é só contemplativa (se é que é contemplativa), marca, também, uma espécie de obstáculo, de barreira, aos heróis dos filmes como se de um destabilizador psicológico se tratasse – “a paisagem física e a paisagem mental”, escreve José Fernandez em “El western de Anthony Mann”.

Os heróis, nos filmes de Mann, são homens que querem, à força toda, assentar, mas que por diversos motivos (sempre traumáticos, sempre) não conseguem. O passado pesa-lhes violentamente, têm vinganças pendentes, ajustes de contas com os inimigos e com eles próprios, com o passado, (sempre o passado) e encontram, dentro de si, violência, violência que repudiam, ao levar a cabo as suas vinganças. Porque, em Mann, não se mata por matar nem se acaba aí, o homicídio deixa marcas irreparáveis, levanta questões e dilemas infindáveis. Para as audiências da altura era ainda tão espantoso, porque os heróis desencantados e descrentes eram James Stewart e Gary Cooper, os heróis inocentes e influenciáveis de Capra nos anos 30 e 40 – subversão inteligentíssima de Mann. E Hitchcock deve ter visto os filmes de Mann antes de começar a sua própria colaboração com Stewart.

Finalmente, se bem que se possa falar de muito mais (o “scope” de Mann, as suas “pinturas”, os jogos psicológicos entre personagens - “The Naked Spur” será o exemplo máximo – e as mãos alvejadas e feridas como imagem recorrente – a mão é um ponto de vulnerabilidade e naqueles tempos era o de maior, por sinal), abordarei a representação da dor em Mann: Stewart e Cooper não são invulneráveis, entram em lutas e magoam-se , e bem (aquelas cenas de pancadaria, de uma frieza indescritível, brutais e desconfortáveis) e Mann filma-os a gritar, a gemer em planos fechados, procurando (e encontrando) o sufoco – o tal desconforto – e penso, por exemplo, nas cenas de “The Man from Laramie”, em que Will (Stewart) é amarrado e imobilizado para que um só homem (Dave) lhe bata, ou nas imagens de Howard Kemp (Stewart) a rastejar pela relva e pelas rochas em “The Naked Spur”, de uma violência tremenda e de uma mestria na sua representação.

Mann não tem, no entanto, a exaltação que merece, não se fala nos seus westerns, mesmo que James Stewart tenha dito que alguns dos seus melhores filmes tenham sido com o realizador ou que Mann tenha, nos anos 50, levado o western numa nova direcção. Até em “The Searchers” se nota a sua influência (se bem que seja discutível). Robin Wood, mais uma vez, adianta uma explicação: o conhecimento do Cinema clássico pelas novas gerações fez-se pela televisão, e as capacidades de Mann (“painterly talents”, diz Wood) diminuem no ecrã pequeno, não se notam. Talvez sim, talvez não, mas Mann, quando no seu melhor, rivaliza com Hawks ou Ford e é um cineasta essencial ("Bend of the River", "The Naked Spur" e "Man of the West", principalmente)...

Fontes:

Jonathan Rosenbaum, “Mann of the West”

José M. López Fernández, “Hombres del Oeste en tierras lejanas – El Western de Anthony Mann”

Robin Wood, “Mann of the Western”

*Trabalho para Géneros