quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os 10 Melhores dos anos 00


Não sabendo bem quando acaba ou quando começa a década (parece que começa em 2001 e acaba em 2010), também eu vou escolher os 10 filmes desta década - os que, para mim, foram os melhores e mais importantes. Aqui estão eles:

"Gosford Park" (2001)

É o 2º melhor filme de Robert Altman (o primeiro é "McCabe and Mrs. Miller" - o anti-western, um dos filmes mais fabulosos dos 70), homenagem à literatura policial inglesa dos anos 30 e 40 e, por si só, testamento vivo do que Altman acreditava ser o Cinema: os grandes elencos sem personagem ou personagens principais (com a complexidade que isso implica) e os diálogos "decorativos" (falar por falar e não para explicar a acção ou a história) - o mais próximo possível da vida. Não é por acaso que, durante as duas horas do filme, Altman "tece" um estudo social e político da Inglaterra dos anos 30. Contemplativo e sedutor como nenhum outro em 2001.

"The 25th Hour" (2002)

É um filme político (e, no fim, muito mais que isso), o primeiro a reflectir (e de que maneira) as feridas sociais, sentimentais e políticas do 11 de Setembro e, claro, é poderosíssimo, fenomenal. É o melhor filme de Spike Lee e é, também, de uma raiva e de um descontentamento desmedidos - o fim do sonho americano...

"O Quinto Império" (2004)

Retrato de D. Sebastião enquanto mito e, portanto, completamente actual ou uma análise intemporal da portugalidade. É onde Pessoa, Paredes e Régio convivem e uma emenda ao fracasso (ainda que glorioso) de "Non, ou a Vã Glória de Mandar" e que (re)avivou todos os nossos fantasmas históricos: Portugal ainda espera que Sebastião regresse numa manhã de nevoeiro...

"Cigarette Burns" (2005)

Pode não ser o melhor, mas não houve filme que me marcasse tanto esta década como o "Cigarette Burns" do Carpenter (da mesma maneira mas em grau diferente só o "Basterds" do Tarantino ou o "Ou git votre sourire enfoui" do Costa), por toda aquela paixão vincada, mesmo demente, pelo Cinema (os cinéfilos - essa raça em extinção) e a atmosfera apocalíptica que atravessa todo o filme - aqui é o apocalipse cinematográfico. E, claro, a rebeldia e a anarquia "carpenterianas", ou como um telefilme para a Showtime se transforma numa verdadeira carta de amor à Película e ao Cinema.

"Il Caimano" (2006)

É sobre Berlusconi, porque é sobre a Itália dos últimos 30 anos e, como diz Teresa (a jovem cineasta) no filme, a Itália dos últimos 30 anos é Berlusconi.
Moretti, o maior cineasta italiano em actividade, constrói uma análise ao Cinema italiano dos últimos 30 anos, do qual faz parte, filmando uma família (e um país) em crise. E faz tudo isto sem cair na condescendência ou no panfletismo. É Cinema político, sim, mas é tão mais que isso...

"The Tracey Fragments" (2006)

"The Tracey Fragments", de Bruce MacDonald, é o melhor filme com Ellen Page (a maior revelação feminina da década). Cinema digital e sobre os nossos dias, conta a história de uma adolescente à procura do irmão desaparecido, por fragmentos, fragmentos de narrativa. O ecrã também está fragmentado (e nunca vi splitscreen melhor que este - também ainda não vi o Histoires du Cinema do Godard) e os sentimentos da personagem, os medos e a própria auto-estima, ainda mais. Diz-nos que, nos tempos que correm, não conhecemos uma pessoa senão por pedaços de convivência, porque vivemos, cada vez mais, isolados uns dos outros.

"Ne touchez pas la hache" (2007)

Filme de época e adaptação de "La Duchesse de Langeais" de Honoré de Balzac, "Ne Touchez Pas la hache" de Jacques Rivette é austero, quase impenetrável, uma sátira tremenda aos costumes do séc. XIX e um conto romântico mútuo-destrutivo ("quanto mais me bates...) e de uma esperteza ("wit") inabalável. É de uma noção de ritmo e de timing cinematográfico extraordinários (colar planos, pensá-los a cada um como força viva, palpável, mesmo) e o melhor Rivette desta década (tinha, por isso, que estar aqui).

"A Londoni férfi" (2007)

Primeiro contacto com o Cinema de Béla Tarr (e único, ainda) e uma experiência única, verdade seja dita. O Tarkovski, o Antonioni e o Minnelli já têm companhia, são eles os principais destruidores daquela ilusão "baziniana" de que o plano-sequência é um plano realista.
A história é facílima de contar, mas o fácil e o simples acabam aí. O que é "A Londoni férfi"? - film noir? ficção científica? - filme de uma importância e de uma profundidade imensa, que tenta apurar (sem conseguir porque não é possível) o que é o ser humano?...

"Cztery noce z Anna" (2008)

Skolimowski não fazia um filme há dezasseis anos, Paulo Branco "resgatou-o" e, assim, nasceu Quatro noites com Anna, um dos filmes mais (dolorosamente e delirantemente) obsessivos dos últimos 30 anos ("Vertigo" dos pobres). É uma história de amor no negativo onde o ódio e o amor, o repulsivo e o sedutor, a inocência e a experiência e o mórbido e a beleza convivem. Das melhores coisas que me foram dadas a descobrir nos últimos tempos....

"Gran Torino" (2008)

Por fim, Clint Eastwood e o seu "Gran Torino". Porque não se pode compreender a América como um misto de republicanos e democratas, bidimensional, nem as pessoas como unidimensionais (e Eastwood sabe-o), eis um filme que só é simples em termos formais (alcançar essa simplicidade é que é o cabo dos trabalhos - só mesmo para alguns), uma "coça" moral como nenhuma outra em 2008.

*E custou-me muito, muito mesmo, não ter conseguido arranjar espaço para o "Spider" do Cronenberg....

Menções Honrosas: "Spider" (Cronenberg) / "Oû Gît votre sourire enfoui" (Costa) / "A.I." (Spielberg) "O Quarto do Filho" (Moretti) / "Vou para casa" (Oliveira) /"A Arca Russa" (Sokurov) / "Mulholland Drive" (Lynch) / "Femme Fatale" (Palma) / "Punch Drunk Love" (Anderson) / "Signs" (Shyamalan) / "Finding Nemo" (Santon) / "Elephant" (Sant) / "Dogville" (Trier) / "Before Sunrise" (Linklater) / "Kill Bill" (Tarantino) / "Far From Heaven" (Haynes) / "Eternal Sunshine of the spotless mind" (Gondry) / "Noite Escura" (Canijo) / "A History of Violence" (Cronenberg) / "The New World" (Malick) / "The Black Dahlia" (Palma) / "Inland Empire" (Lynch) / "98 Octanas" (Lopes) / "Livro Negro" (Verhoeven) / "Miami Vice" (Mann) / "Little Children" (Field) / "Belle Toujours" (Oliveira) / "I`m not There" (Haynes) / "Paranoid Park" (Sant) / "There Will be blood" (Anderson) / "This is England" (Meadows) / "Juventude em Marcha" (Costa) / "Vals im Bashir" (Folman) / "Lat den ratte komma in" (Alfredson) / "Che" (Soderbergh) / "Inglourious Basterds" (Tarantino)

R.I.P. x 4

Morreu Brittany Murphy, aos 32 anos e antes de conseguir "construir" uma carreira: ficam, talvez, "Sin City" e "8 Mile" (mas duvido):

Brittany Murphy (1977-2009)

Morreu Jennifer Jones, a eterna Pearl Chavez de "Duel in the Sun" de King Vidor. Pode ser que seja esse o seu melhor papel, mas o meu preferido é o de Madame Bovary em "Madame Bovary" de Vincente Minnelli, aquele ódio e aquela raiva acumulada, aquele grito de revolta por felicidade, por satisfação, por liberdade... E a cena do baile continua espectacular, tão espectacular como há 61 anos:

Jennifer Jones (1919-2009)

Morreu Dan O`Bannon, colega de escola de John Carpenter. Juntos fizeram um filme de um amadorismo encantador, uma odisseia radical e inverosímil que dá pelo nome "Dark Star", e que serviu de base a um filme "profissional" em 1979, mas em nada superior ("Alien" de Ridley Scott). Participou, também, na escrita do argumento deste último e de "Total Recall" de Paul Verhoeven.

Dan O`Bannon (1946-2009)

Por fim, morreu Robin Wood, aos 78 anos. Crítico de profissão, escreveu livros sobre Alfred Hitchcock, Howard Hawks e Arthur Penn, além de ter escrito artigos para várias revistas, como a "Cahiers du Cinema" (artigo sobre Psycho, em 1960), a "Film Comment" e a "CineAction". Em 2008, a Criterion convidou-o a escolher um Top 10:

1. "Sansho The Bailiff" (Mizoguchi); 2. "Playtime" (Tati); 3. Complete "Mr. Arkadin" (Welles); 4. "Seven Samurai" (Kurosawa); 5. "Pickup on South Street" (Fuller); 6. "The Lady Eve" (Sturges); 7. "Tokyo Monogatari" (Ozu); 8. "I Know where I`m Going" (Powell/Pressburger); 9. "Band à Part" (Godard); 10. "Notorious" (Hitchcock);

Robin Wood (1931-2009)

domingo, 20 de dezembro de 2009

"Avatar" - 2009


O "Avatar" não é metade do que é o "Terminator 2", nem um terço, nem um oitavo.
É ver o "The Abyss" ou o "Aliens" (melhor da série) outra vez e reparar nas diferenças: dum lado temos a humildade de um artesão e do outro a megalomania de alguém que é pequeno demais para a ter, o Cameron não é um Lang, nem sequer um Coppola - anda muito, muito longe.

* E o ponto de partida até nem é desinteressante: os humanos são os aliens e a sempre propositada analogia com os Descobrimentos com Pocahontas à mistura. Bem, fica aí uma imagem do "The Abyss", que eu do "Avatar" não ponho...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"一一" - 1999



O filme de Edward Yang é um monumento, um épico intimista (como "Magnolia") e, sobretudo, universal. Diz tanto a pessoas do Taiwan (ou "Formosa" - já foi colónia portuguesa) como a pessoas do Japão, da China, da Europa e da América....
Envolvente, sereno e meticuloso - faz lembrar o cinema de Ozu - é de uma perfeição tremenda (planos, enquadramentos...).

São 5 pessoas a aprender sobre a vida, sobre o Amor, sobre a morte, e, no fim, são tantas mais: somos todos nós, os novos e os velhos, os homens e as mulheres, e (claro e sempre) sem olhar a credos e raças: o Mundo inteiro está aqui, já todos passámos por isto, de uma maneira ou de outra. Foi o filme-sensação do Festival de Cannes em 2000 (não sei porque é que o trier ganhou a Palma de Ouro) e o melhor filme de 99 (já estava pronto nesse ano), junto a "Magnolia" e o "Vento Levar-nos á" do Kiarostami.

Crítica de Kent Jones

"Terminator 2: Judgment Day" - 1991



É mais que Entretenimento, é mais que Blockbuster. É humano, é tocante, é uma lição de argumento e de desenvolvimento de personagens. É uma viagem alucinante e um dos melhores filmes americanos dos anos 90. Se "Avatar" fôr metade do que este é, fico satisfeito.

É pena é o "Titanic"...

sábado, 12 de dezembro de 2009

101 e Non

"Lendo-o do princípio para o fim ou do fim para o princípio..."

"A Streetcar Named Desire" - 1951



STELLA! STELLA !

Mais do que por ter grandes actores, porque isso não chega (se ajuda? - ajuda, sim senhor), é este momento que me faz adorar o filme de Kazan. Porque se acontecem desgraças antes e depois de Stanley começar a olhar para a escadaria da casa dos vizinhos (onde Stella está) elas deixam de importar quando ela ouve o grito animalesco do marido - e o mundo continua, como sempre continuou e há-de continuar. É por isto acontecer (o grito selvagem) que as coisas são como são e é por as coisas serem como são que acontece isto, é o fechar e o abrir do ciclo de acontecimentos do filme, das relações amargas à imundície do bairro, o negro e o escuro. Não há, lá, lugar para alguém com o nome de Blanche, não pode haver...