O zapping é uma coisa maravilhosa, não me queiram fazer pensar o contrário. Foi ele que me fez descobrir a sequência final do filme de Antonioni, antes de saber sequer quem era Antonioni e enquanto via Cronenbergs e Carpenters, na Sic Radical.
Anos depois então, veio Zabriskie Point, o monumento anti-establishment de Michelangelo Antonioni com o despojamento material e social que sugere, à superfície, a sua última sequência. Rebelião juvenil, pergunto. É Zabriskie Point um simples apontar o dedo às hipocrisias da sociedade de consumo e um abraço à causa estudantil, ou também se aponta o dedo a esta última? Perceba-se, então, que anti-establishment é, não em relação a um, mas a todo e qualquer establishment, a toda e qualquer ordem, a toda e qualquer resposta. É a revolução artística, é a circundante - cíclica - questão da existência e é por isso que rebenta connosco, como disse aqui o João nos comentários. É, dentro da filmografia de Antonioni, o filme que mais segredos persiste em não revelar, o mais enigmático.
Depois das explosões, de vários ângulos, a panorâmica impossível e as mais belas imagens em slow motion que o Cinema produziu não mais se olham as coisas da mesma maneira. Começa com os soares e ressoares da percussão de Nick Mason, do orgão de Richard Wright e do baixo de Roger Waters (pode não ser este o alinhamento, não faço ideia) e progride numa calmia impossível por acabar numa agitação sem concessões. É uma gestão rítmica do plano, da sequência, que não tem nome nem se ensina por ser irreproduzível, pois claro, e por se construir na base do segredo e do enigma - a encenação invisível. Quando a sucessão dos planos e das sequências não se dá nos domínios do lógico nem do ilógico, dá-se em que domínios? Hoje, deu-se me como certo que Antonioni (como Bresson) trabalhavam a um nível superior da Montagem...
O primeiro Antonioni nunca se esquece...
Zabriskie Point é o mais belo e sublime filme do Mundo.