domingo, 5 de maio de 2013
As situações que fazem as delícias dos cineastas putativos desta e doutras épocas, que torturam personagens no alto das arenas romanas que são os seus filmes (Os Triers e o Canijo do sangue do meu sangue de polegares de imperador em riste atrás das câmaras e que esperam e esperam até o baixar) em Ford duram nem segundos. Antes que se possa pensar ou conceber, sequer, que as coisas vão ser o que vão ser, as personagens já o percebem. Elas é que hão-de saber porque são elas que lá estão. Nós não sabemos nada.
Se as mulheres não são gazelas e os sacrifícios não são espectáculos masturbatórios, há destas coisas. Os reflexos reveladores em espelhos e as mãos que se encontram em segredo (nas duas imagens acima) podem-se perder se se piscar os olhos uma vez. Filmes como estes não se vêem se os virmos, uma, duas, três vezes... O que é que se vai descobrir a seguir? Será que sei que as "sete mulheres" são as que vão na carroça viver a vida à custa daquela em que todas menos duas cuspiram em cima? Quem é a oitava mulher? À Cartwright das favelas da vida calhou a maldição de deixar de ser mulher ou ser humano e por isso é que são sete? Foi erro de contagem da produção? Soava melhor assim? Eu quero lá saber, basta-me darem a Brancoft a entrar em cena à Duke e a sair pelas nuvens levada por um cineasta sem interesse nenhum em nos piscar o olho como quem diz "tás a ver o que estou aqui a fazer?" que me parto todo em pranto. A Anne Bancroft é as "sete mulheres"? São 82 minutos e não sei nada. O "you're the only one that still has a chance... there's a real world outside." não é devaneio de uma mulher bêbada amargurada ou de um velho senil. É um aviso vindo das entranhas. O mundo ou o céu é mesmo dos "simple hearted" mas a irmã Andrews toma a expressão como "simple minded". Porra, foda-se, não se pode ficar à espera do mundo a vida inteira.
O coração pede coisas impossíveis e nós arrastamo-nos na lama por ele. Nada chega e nada é suficiente e "clássico" o caralho. Estas merdas percebem-se e estas merdas doem muito. A praga naquele posto religioso é o menor dos problemas daquelas pessoas. Isso aceita-se, é fácil, não há muito que se possa fazer e o que se pode, faz-se, que é ciência. Mas e o homem que sai do posto pela mulher e pelo filho quando percebe, parvo e doido, que deixou a família - a outra família - grudar-se a ele até à velhice? E o choro do "it's not enough, God forgive me" da Andrews que enlouquece de inveja pelo martírio da Cartwright. Disse para si própria "espera, filha, a vida há-de chegar até ti" mas não chegou e condenou-se a um martírio calado e nojento e a uma vida sem vida. Esta vida sem vida de tanta gente. E como é que se evita isso?
Anne Bancroft,
Posso-te chamar Anne? Sabes isto tudo. Se calhar só quiseste que a Sue Lyon e o bébé tivessem uma chance fora da tristeza desse posto infernal que é o mundo, também. Eles não sabem nada e o pouco tempo em que não vão saber vale tudo o que fizeste. É isso, não é?
Se calhar desenhaste um plano maior que eu não consigo conceber. Mas vou tentar. Só por andares como andas aqui e te rires, de vez em quando, apesar de tudo. Mesmo apesar de tudo. E fumas, também.
Como danças no Restless Breed do Dwan... É, também vi isso. Eles até te fizeram um quadro e tudo. Estás de vestido vermelho. Nessa altura ainda não sabias nada.
És o melhor desse filme. E ia jurar que já nos vimos em algum lado. Se não soubesse que era impossível. Se calhar fazes-me lembrar alguém.
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