1930 – USA (158' reduzidos para 126') ● Prod. Fox ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. Jack Peabody, Marie Boyle, Florence Postal a p. de uma história de Hal G. Evarts ● Fot. Lucien Andriot (versão de 35mm), Arthur Edeson (versão de 70mm) ● Mús. R. H. Bassett, Peter Brunelli, Alfred Dalby, Arthur Kay, Jack Virgil ● Int. John Wayne (Breck Coleman), Marguerite Churchill (Ruth Cameron), El Brendel (Gussie), Tully Marshall (Zeke), Tyrone Power, Sr. (Red Flack), David Rollins (Dave Cameron), Ian Keith (Bill Thorpe), Charles Stevens (Lopez), Ward Bond (Sid Bascom). (nota: confrontando dados de várias filmografias de Walsh, actualizei as informações na fotografia e na música presentes no livro de Lourcelles)
A primeira caravana de pioneiros parte das margens do Mississipi em direcção ao Oregon. Breck Coleman aceita ser o batedor quando descobre que Red Flack vai ser o chefe. Na verdade suspeita que é ele o assassino do seu velho amigo Ben, despojado do seu carregamento de peles. A partir do início da viagem, Breck apaixona-se por Ruth Cameron, a filha de um general, pela qual também se interessa Thorpe, jogador profissional que foge da justiça, amigo de Red Flack. Enquanto Breck vai aos Pawnees procurar batedores de reforço, Red Flack envia Thorpe e Lopez para o matar. Durante a passagem de uma manada de bisontes, eles disparam sobre ele. Mas Breck volta-se a juntar ileso à caravana, cujas carroças acabam de fazer a travessia de um rio. Depois de apalavrar com os Cheyennes, os homens da caravana obtêm a autorização para atravessar o seu território, mas sem parar. Num desfiladeiro, as carroças e os animais têm de ser descidos com cordas ao longo de uma encosta particularmente íngreme. Thorpe planeia partir para a Califórnia com Ruth. Red Flack impõe-lhe matar primeiro Breck Coleman. Enquanto se apressa a fazê-lo é abatido por Zeke, um velho caçador, amigo de Coleman desde sempre. As carroças entram no deserto. Têm de se dispor em círculo para enfrentar os Crows e os Cheyennes. Há muitas vítimas. São enterradas e retoma-se a viagem. As rodas das carroças empoçadas estão praticamente paralisadas. Eclode um temporal, ao qual se segue uma tempestade muito violenta. Fala-se em voltar para trás. Breck sobe a moral de toda a gente. Lopez tenta esfaqueá-lo com uma faca que tinha pertencido a Ben. Breck tem agora a prova da sua responsabilidade no assassínio do seu amigo. Leva os emigrantes até aos vales verdejantes do Oregon, o fim da viagem. Depois volta a partir para os picos em perseguição de Lopez e de Red Flack. A neve cai espessa. Lopez tem as pernas geladas. É abandonado a morrer por Red Flack, que Breck encontra e esfaqueia um pouco mais tarde. Este junta-se de seguida a Ruth, já instalada nos arrabaldes de uma imensa floresta de sequóias gigantes.
► Quarto filme falado de Walsh. Os meios consideráveis postos à sua disposição permitem-lhe implementar todo o alcance do seu génio. A rodagem estendeu-se por um ano e teve lugar quase integralmente em exteriores (no Wyoming). Este vai ser o melhor filme de Walsh durante a década e um apogeu do cinema. Várias sequências – como a da descida das carroças no desfiladeiro – estão entre as mais espectaculares que se viu num ecrã. Neste documentário épico, Walsh, que se interessa tanto nos indivíduos, fala acima de tudo de qualquer coisa que ultrapassa o indivíduo. Para além dos inúmeros obstáculos – climatéricos, geográficos e humanos – a impedir a marcha dos pioneiros, estes são empurrados em direcção à linha de horizonte por uma força instintiva, telúrica. Obedecem a uma lei que se aparenta às que regem o ciclo das marés, as migrações dos pássaros ou o movimento das estrelas. Observaremos que o cineasta nunca procura engrandecer as personagens contra a natureza ou por oposição a ela. No auge da sua luta, elas estão como que amalgamadas nela num todo indissociável. E os planos mais gerais do filme são também os mais belos. Paralelamente à progressão física dos pioneiros, desenvolve-se o combate permanente entre o bem e o mal. Antes de Pursued, The Big Trail foi o filme em que Walsh tentou englobar o máximo de realidade possível, aqui no registo do grandioso, desde as profundezas da terra até aos céus mais longínquos. A sua ambição é imensa, poderíamos dizer cósmica, mesmo que não recorra a nenhum dos processos habituais, humanistas ou literários, para se chegar à frente.
N.B. No capítulo da sua auto-biografia intitulado « Colombo só descobriu a América », Walsh contou como deu a John Wayne o seu primeiro papel principal. The Big Trail foi filmado em duas versões : uma em 35 mm corrente e a outra num processo novo para o grande ecrã, o « Grandeur 70 mm ». O filme saiu dessa forma no Roxy Theatre de Nova Iorque em 1930. Mas o processo foi depressa abandonado (especialmente por causa do custo de instalação das salas). Em 1986, o Museum of Modern Art de Nova Iorque reconstituiu uma cópia de 35 mm em Cinemascope. Construiu-se uma impressora especial para transformar o negativo de 70 mm (como tal não utilizável) em « master » de 35 mm anamórfico. O resultado parece ter entusiasmado os primeiros espectadores. (Sobre esta nova cópia, ver o artigo de Ronald Haver « Trail Blazing » na revista « American Film », Maio de 1986.)
Jacques Lourcelles, in « Dictionnaire du Cinéma - Les Films », Robert Laffont, Paris, 1992
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