1941 – USA (100') ● Prod. Warner (Hal B. Wallis) ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. John Huston e W.R. Burnett a p. do R. de W.R. Burnett ● Fot. Tony Gaudio ● Mús. Adolph Deutsch ● Int. Ida Lupino (Marie Garson), Humphrey Bogart (Roy Earle), Alan Curtis (Babe Kozak), Arthur Kennedy (Red Hattery), Joan Leslie (Velma), Henry Hull (Doc Banton), Henry Travers (Pa Goodhue), Jerome Cowan (Healy), Minna Gombell (Sra. Baughman), Barton MacLane (Jack Kranmer), Elizabeth Risdon (Ma), Cornel Wilde (Louis Mendoza), Donald MacBride (Big Mac), Paul Harvey (Sr. Baughman).
Nativo do Indiana, o gangster Roy Earle, condenado à perpétua, recebeu o seu perdão do governador e é libertado depois de oito anos de encarceramento. A primeira iniciativa dele ao sair da prisão de Chicago é ir passear num parque. Ele deve a sua libertação ao seu associado Big Mac que, agora muito doente, tinha preparado o assalto de um hotel de luxo em Palm Springs para ele. Depois de ver de novo a sua quinta natal, Roy viaja para a Califórnia. Contempla ao longe, fascinado, o Monte Whitney, o pico mais alto dos Estados Unidos. Conhece um casal de agricultores do Ohio que se vêm instalar na região. A filha deles, a encantadora Velma, sofre de um pé torto. Roy junta-se aos dois cúmplices que Big Mac lhe atribuiu, Red e Babe, no seu refúgio de montanha. Babe vive lá com uma rapariga, Marie, dançarina de cabaret, o que não agrada nada a Roy. Uma vez resolvido o plano de ataque graças às informações fornecidas por Mendoza, um empregado do hotel, Roy vai ter com a família de Velma. Conversa com ela a olhar para as estrelas. Depois vai ver outra vez Big Mac que nunca deixa a cama e evocam juntos os bons velhos tempos. Roy leva o seu amigo, o doutor Banton, para examinar Velma. Ele diz que a operação é muito possível e recomenda um cirurgião. Ao voltar para o acampamento na montanha, Roy encontra Red e Babe a meio de uma luta por causa de Marie. Usando a força, restabelece a paz entre eles e quer-se livrar da jovem. Ela suplica-lhe que lhe dê uma oportunidade. Contando-lhe a sua vida, apaixona-se muito rápido por ele. Roy aceita mantê-la. Volta a ver Velma, cuja operação que ele financiou foi perfeitamente bem sucedida. Pede-a em casamento mas ela não o quer. O assalto ocorre como previsto. Os cofres são esvaziados do seu conteúdo em jóias. Mas surge um polícia no final da operação e o ser aparecimento provoca um tiroteio. Roy foge com Marie. O outro veículo, onde desaparecem Red, Babe e Mendoza, tem um acidente grave. Só Mendoza vai sobreviver, e «vai despejar tudo». Como combinado, Roy vai entregar as jóias a Big Mac mas encontra-o morto. O tenente dele, Kranmer, quer-se apoderar das pedras. Fere Roy, que o mata. Roy vai-se tratar a casa do amigo Benton e volta a casa de Velma que o rejeita definitivamente. Está prestes a casar-se com um antigo noivo. Roy contacta o intermediário indicado por Big Mac e vai esperar pela sua parte durante vários dias. O jornal fala do trio que ele forma com Marie e o cão que traz má sorte que adoptaram. Decide separar-se provisoriamente de Marie. A polícia persegue-o enquanto se dirige de carro para as montanhas altas da Sierra Nevada. Tem de acabar o caminho a pé e esconde-se entre as rochas. É logo cercado pelos polícias e tem de suportar um cerco sem esperança. Um atirador vai matá-lo, apanhando-o pelas costas. Correndo para o socorrer, Marie não pode fazer nada por ele.
► Sem ser uma obra-prima, o filme tem uma dupla importância na carreira de Bogart e na de Walsh. Para o seu quarto filme com Walsh (cf. Women of All Nations, 1931, The Roaring Twenties, 1939, They Drive by Night, 1940), Bogart, mesmo antes das obras decisivas que iam dar um carácter mitológico à sua personagem (A Relíquia Macabra, 1941, Casablanca, 1943) administra – pela primeira vez – a prova dos seus dons num primeiro grande papel, «positivo» e trágico. Está sozinho como estrela e, embora tenha interpretado muitas vezes papéis de «vilões», aqui suscita a simpatia do público ao longo de um itinerário trágico cuja responsabilidade, no plano dramático, repousa inteiramente sobre os seus ombros. (Bogart conseguiu o papel porque George Raft o recusou, não querendo morrer no final. Foi seguido na sua recusa por Paul Muni, James Cagney e Edward G. Robinson.) Os pontos de contacto entre Walsh e Bogart, apesar da estima mútua entre os dois homens, são diminutos. Bogart é um actor demasiado racional, demasiado controlado, e a sua personagem é um «homem honesto» de forma demasiado fundamental para convir inteiramente a Walsh. Falta-lhe esse excesso, esse ardil, essa monstruosidade e esse aspecto picaresco indispensáveis aos heróis walshianos, ou noutro registo, essa passividade trágica que um Joel McCrea vai exprimir na perfeição em Colorado Territory, remake em western de High Sierra. A década de 30-39 não tinha sido muito favorável para Walsh. Se a tinha começado de forma admirável com The Big Trail, um dos filmes faróis da sua carreira, daí em diante não tinha conseguido prolongar ímpeto de uma forma verdadeiramente digna dele. High Sierra é apaixonante como início do grande regresso de Walsh e pelos esforços do realizador, parcialmente coroados com sucesso, para transformar a personagem de Roy Earle em herói walshiano de pleno direito e para dar ao conjunto do filme uma dimensão cósmica, essencial à sua obra. Através de Roy Earle, Walsh tenta fazer o retrato de um personagem dominado por uma necessidade desesperada e quase obsessiva de liberdade. A sua natureza e o seu carácter impelem-no para fora da cidade, para fora da sociedade (e portanto para fora do film noir), três domínios que restringem a sua experiência e o asfixiam. Só consegue estar à vontade perto dos picos, nos grandes espaços, nas solidões do ilimitado na direcção do qual o empurra, mesmo quando é demasiado tarde, o seu instinto animal (cf. as sequências da perseguição final). As alturas da Sierra Nevada são de alguma forma o cemitério dos elefantes deste personagem, demasiado apertado na sociedade, no papel – e na etiqueta – que ela lhe colou às costas. O fatalismo do filme, que é interessante estruturalmente quando assegura uma ligação entre o universo do filme de gangsters e o do film noir, expressa-se frequentemente de forma artificial e repetitiva (cf. o papel do cão). Walsh sente esse fatalismo como uma limitação, evidentemente. Isso deve-se sem dúvida ao guião de Huston. Bem preferível para ele será a adaptação do romance de Burnett pelo seu amigo e colaborador de sempre, John Twist, em Colorado Territory. Bela composição de Ida Lupino, uma actriz que se integra sempre de forma admirável no universo walshiano; o filme confirmou a celebridade que tinha acabado de adquirir sob a direcção de Walsh em They Drive by Night.
N.B. Remakes: Colorado Territory (Walsh, 1949), I Died a Thousand Times (Morri Mil Vezes, Stuart Heisler, 1955). Este último filme, de estilo mais primitivo que High Sierra, é uma obra forte e cativante, muitas vezes mais comovente que o filme de Walsh. Jack Palance, Shelley Winters e Lori Nelson retomam os papéis de Bogart, Lupino e Joan Leslie.
Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.
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