sexta-feira, 9 de julho de 2021

THE RETURN OF DRAW EGAN (1916)


Inédito em Portugal. 1916 – USA (62') ● Prod. Triangle/Kay-Bee sob a supervisão de Thomas Ince ● Real. WILLIAM S. HART ● Gui. C. Gardner Sullivan ● Fot. Joe August ● Int. William S. Hart («Draw» Egan/William Blake), Louise Glaum (Poppy), Margery Wilson (Myrtle Buckton), Robert McKim (Arizona Joe), J.P. Lockney (Mat Buckton). 
 
«Draw» Egan é um dos líderes de bandos mais procurados do Oeste. Perseguido por um grupo de cavaleiros, o seu bando é cercado numa quinta. Egan consegue escapar. Na povoação de Broken Hope, a sua coragem e o seu sangue-frio atraem a atenção de Mat Buckton, cidadão influente de Yellow Dog, pequena cidade vizinha onde o mundo do crime leva a vantagem. Buckton propõe a Egan tornar-se xerife. Ele aceita e, com o nome de William Blake, restaura a calma em Yellow Dog matando os maus elementos. Mas aquilo que o impulsiona a ficar do lado certo da barricada, é sobretudo o seu interesse por Myrtle, a filha de Buckton. Poppy, rainha do saloon, que Egan desdenhou, tenta levantar a cidade contra ele. É ajudada com a chegada de Arizona Joe, um antigo companheiro de Egan, que quer voltar a criar desordem na cidade. Responde à autoridade manifestada pelo novo xerife no exercício das suas funções com uma chantagem que permanecerá sem efeito. Finalmente, em público, revela tudo do passado de Egan e este não o tenta negar. Promete entregar-se antes das seis horas. Mata Arizona Joe em duelo e devolve os seus dois revólveres a Buckton. Buckton e os habitantes da cidade pedem-lhe que fique. Myrtle junta-se a eles nessa petição e cai nos seus braços. 
 
► Filme perfeitamente característico da produção de William Hart na Triangle pelos seus temas, a personalidade do herói e o equilíbrio clássico da mise en scène. A utilização sóbria e quase documental dos exteriores e uma figuração abundante criam uma impressão muito forte de real que não vai alterar nem o humor nem o pitoresco, que não estão no reportório de Hart. Notar-se-á que, desde esta época primitiva do western, e pelo menos em filmes adultos como este, o maniqueísmo tradicional do género é muito mais um maniqueísmo de valores que de personagens. A fronteira entre o Bem e o Mal é nítida, entre os bons e os maus é muito menos. O herói passará assim sem tragédia e quase sem esforço do estado de bandido procurado para o de xerife respeitado e admirado. É com uma ironia subjacente mas evidente que William Hart (autor) indica que a redenção de Hart (personagem) é bem mais uma questão de amor que de moral. Sem a presença de Myrtle em Yellow Dog, Hart (personagem) teria sem dúvida cedido à tentação de se juntar aos malfeitores da cidade, apresentados como mais divertidos para estar do que as pessoas honestas. A «moral» do Oeste é vista aqui no seu realismo e no seu relativismo: pouco importa o passado do limpador de cidades, a partir do momento em que é útil para a comunidade.

Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.

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