Visto já depois de conhecer o "estilo" do russo e de ter visto "Stalker" (um dos melhores filmes de sempre), o "Nostalghia", o "Offret" e o "Tempo di Viaggio", ver o "Espelho" foi, ainda assim, assombroso e uma viagem surpreendente, fascinante. E não há história, ou melhor, há pequenos pontos narrativos: uma família dividida, uma guerra, sonhos e deambulações; mas o Cinema não tem que ser narrativo nem tem que ser só prosa. "O Espelho" é poesia, é música. É uma viagem pessoal, sem ser, por isso, racional ou cerebral, mas antes um desabafo sentimental e artístico - uma obra de arte - vindo, claro e sempre, do coração.
E os planos são fabulosos, seja cada um em particular, seja a sua articulação, seja o todo. Esculpir o tempo, "cortar" no plano em sequência e usando o som e a luz (como Antonioni e Minnelli - este último menos, é certo), ir ao cerne de TUDO, filmando aqueles momentos reflexivos, sejam passeios ou olhares fixos. Os pássaros, as árvores, o vento, o passado, a família, a guerra, o pai, a mãe, Tarkovsky e o "Espelho".
Agora tenho de ver o Solaris, o Andrei Rubliov e a "Infância de Ivan" e, claro, ler o "Sculping Time". O poema que se segue é de Arseni Tarkovsky, pai de Andrei, e foi parte da influência de "O Espelho", assim como outros que ele escreveu.
"And suddenly all changed, like in a trance,even trivial things, so often used and tried,when standing beetween us, guarding us,was water, solid, stratified.it carried us i don`t know where.retreating before us, like some mirage,were cities, miraculously fair.under our feet the mint grass spread,the birds were following our tread,the fishes came to a river bend,and to our eyes the skin was open.behind us our fate was groping,like an insane man with a razor in his hand."
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