E La Nave Va sofre da disparidade formal de que muitos dos filmes de Fellini sofrem, principalmente a partir da década de 70. É perfeitamente possível que seja consciente da parte dele, aliás, não duvido que seja, mas "puxa-me um bocado para trás". No entanto, isto não impede que haja momentos fulgurantes espalhados por toda a sua obra. E que os há, há.
Esta sequência é um desses momentos. Explorando a diferença entre dois mundos, o que serve e o que é servido, vemos que o primeiro é drasticamente "real" e o segundo vive da aparência e da hipocrisia. E vemos isso através da transição do rápido para o lento, da cozinha para as mesas. Pobreza/Riqueza, realidade/aparência, a metáfora é riquíssima e infinita em interpretações.
Ou seja, Fellini só me interessa quando explora a disparidade temática, sim, mas através de um perfeito e coerente pensamento formal. Otto e Mezzo e estes pequenos rasgos de génio (espalhados por toda a obra) são o seu testamento para o mundo.
Não duvido que hajam transições e cortes, em Fellini, a abalar o todo, profundamente.
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