quarta-feira, 29 de setembro de 2010


O último Rivette é, como o último Resnais, reflexo de uma forma e de um pensamento plenos. Dois octogenários de uma jovialidade e talento invejáveis a filmar tristezas e alegrias, passado e futuro, traumas e amores, carros e aviões. A engrenagem e o (não) arranque são a metáfora inicial para 36 vues e os aviões e a liberdade, a final para Herbes Folles. Tudo com uma aparente e sedutora inocência, um regresso à infância. A magia e o circo, a mala e a lua, os planos antológicos, Azéma e Dussollier, Birkin e Castellito, os palhaços e os polícias. E aquelas cores. Saber filmar, como saber viver, é uma arte que se reserva aos idosos, sem dúvida. Filmes irmãos, realizadores irmãos.

2 comentários:

Álvaro Martins disse...

Ainda não vi o último do Rivette, aliás, ainda vi pouco de Rivette. Tenho de me dedicar a ele qualquer dia. Mas o último do Resnais gostei muito, é um grande filme sim. Mas eu identifico mais o Rivette (do pouco que conheço) com o Godard. Estou errado?

João Palhares disse...

Sim, é possível que esteja mais perto do Godard, pelo lado da cinefilia e do experimentalismo que do Resnais, propriamente. Do Resnais, aproxima-se mais pelo lado do sonho e do segredo, há traços comuns entre o Providence (que acho o melhor filme do Resnais) e o Céline et Julie vont en Bateau (que, por acaso, também acho o melhor filme do Rivette, eheh), por exemplo. Mas estes dois últimos, o 36 vues e o Herbes Folles, são, de facto, muito parecidos. Foi mais por isso que lhes chamei realizadores irmãos..
Eu acho o Rivette genial, tanto o crítico como o cineasta. Dedica-te a ele, vale a pena. :)