sábado, 5 de fevereiro de 2011

2ª série dos Planos (II)



Comecei a rubrica Planos por um lado, para complementar os outros posts, de forma a que se soubesse o que andava a ver, por outro, para (re)lembrar a importância vital do plano, por achar que, de uma forma geral, não se fala de (nem se discutem) planos por essa blogoesfera fora.

Uma ou duas vezes por semana, convido bloggers a escolherem planos e falarem também sobre eles. O segundo convidado é o Álvaro Martins, do Preto e Branco, que escolheu o último plano de Landscape in the Mist (1988), de Theo Angelopoulos.


"Quanto ao plano escolhido, é um plano geral fixo (embora com leves e lentíssimos movimentos que não implicam deslocação da câmara), é o último plano do filme Paisagem na Neblina do grego Theo Angelopoulos (um dos meus cineastas de eleição), e o plano filma duas crianças (as protagonistas do filme) indo em direcção a uma árvore. Penso eu, que a árvore aparece ali como que a simbolizar o destino (o destino duma árvore é aquele, inerte, inevitável), e por isso aquelas duas crianças que durante o filme vivem numa constante procura utópica do pai até que neste final se compreende toda a inevitabilidade desse destino da orfandade paternal. Não há nada que eles possam fazer, por mais que procurem nunca encontraram o pai (e Angelopoulos nunca nos diz se está vivo, se está morto ou se não quer ser encontrado, nem interessa para nada), assim como as árvores nunca sairão do sítio. E o plano é brilhante, a forma como procura enevoar todo o cenário como uma metáfora da recusa da aceitação de tal condição por parte das crianças, dissipando-se lentamente (a névoa) à medida que as crianças alcançam a árvore, até ao desaparecimento total da névoa (a recusa) quando estes abraçam a árvore. Penso que seja assim." (Álvaro Martins)

O próximo convidado é o João Gonçalves.

2 comentários:

Álvaro Martins disse...

Ora bem, obrigado pelo convite João e é com grande satisfação que participo ;)

Angelopoulos é, de facto, para mim, um dos mais importantes cineastas da actualidade. Confesso que não pensei muito para escolher o plano, hoje talvez escolhe-se outro, mas lembrei-me deste porque resume ali a condição a que aquelas crianças estão sujeitas, a resignação que chega naquele momento. Um plano pode dizer muito, e por vezes até pode dizer tudo. Concordo plenamente contigo quando dizes "não se fala de (nem se discutem) planos por essa blogoesfera fora." É pena, mas agrada-me que faças este esforço em relembrar que o cinema é feito de planos eheh

Atalhando eheh, parabéns pela rubrica ;)

João Palhares disse...

De nada, Álvaro.

Em relação aos planos, sim, o Cinema é feito deles. Os realizadores encadeiam-nos numa certa ordem, fazem durá-los um certo tempo.

Este plano em particular parece-me óptimo, e deu-me muita vontade de ver o filme.

E obrigado.