"Queria ter podido falar sobre toda a sequência inicial do filme, mas obrigam-me as regras do jogo a indicar apenas um plano, pelo que escolho este inicial, até ao primeiro corte.
Não se trata de um plano-sequência particularmente virtuoso, mas o virtuosismo nunca foi o meu forte (embora Ophüls seja um dos meus homens), pelo que não importa. O verdadeiramente impressionante nesta cena é o modo como atribui sentidos a todo o filme que lhe segue. Está lá tudo o que importa: o beijo (a fisicalidade do amor), o anel (o amor como símbolo de um sítio onde as almas se juntam, tornam-se iguais), Moon River (o amor filtrado pela memória do cinema). Quando Pedro diz «amo-te» e Rui responde «vais ter que me provar isso», está-se a definir o filme: uma prova de amor. Talvez não haja algo mais romântico que o regresso do mundo dos mortos para se unir ao amado (embora Orfeu rivalize). E sempre gostei de estruturas circulares (Ophüls outra vez): esta cena inicial será repetida, com variações óbvias, no final, antes do epílogo. É um filme em que se percorre um longo caminho para se chegar ao mesmo sítio, aquele em que duas pessoas coexistem simplesmente. Esta sequência é isto." (José Bértolo)
A quem interessar, o José publicou uma análise a toda a sequência, no Interlúdio.
O próximo convidado é o Harry Madox
3 comentários:
Não vi o filme. Mas gostei muito de ver este plano (toda a sequência) pelos olhos do José Bértolo. Muito bonito.
Também não vi o filme, mas está para breve. Como é óbvio, também gostei muito de a ver pelos olhos do José.
Obrigado, Kleber.
Claro que podes.. :)
Enviar um comentário