Quando recebi o amável convite do Cine Resort para escolher um plano, pensei logo neste (de ‘O homem que matou Liberty Valance’, John Ford, 1962): John Wayne na soleira da porta, a olhar para Vera Miles e James Stewart; ela chora e acaricia este último, aliviada por ele ter sobrevivido ao confronto com Liberty Valance. E Wayne mentaliza-se aí, definitivamente, que perdeu para sempre a mulher que ama.
Ele que fizera questão de levar James Stewart a sua casa, à casa que estava a ampliar para poder morar lá com Hallie (Vera Miles) após o casamento, como explicou. E que quando Stewart observa que toda a gente tomava isso como certo, replicara: ‘everybody except Hallie, and maybe you’. E percebemos que ele já duvidava, que já sentia que a estava a perder. Mas mesmo assim não hesitou em salvar o seu ‘rival’, atirando-o directamente para os braços acolhedores da mulher que deseja.
‘O homem que matou Liberty Valance’ é reconhecido como sendo o nostálgico adeus de John Ford ao Velho Oeste, mas para mim sempre foi, principalmente, o filme em que o idealista advogado Ramsom Stoddard rouba a mulher (e a cidade) ao cowboy Tom Doniphon, num dos raros casos em que o protagonista (e como fez questão de sublinhar João Bénard da Costa, este é um filme sobre o homem que matou Liberty Valance, e esse homem é John Wayne) perde a rapariga para o rival. E a ‘tristeza infinita’ daquele homem (JBC), que precede a raiva violentissima (‘contra si próprio e contra o destino’, JBC outra vez) está toda expressa neste plano: John Wayne, o duro, recto e cínico cowboy de tantos e tantos filmes, que perdeu a mulher que ama. (Harry Madox)
O próximo convidado é o hg.
4 comentários:
Grande escolha, grande plano e grande filme.
As portas que se fecham atrás do Wayne têm mesmo muito que se lhe digam...
é verdade, é verdade.
Texto muito bonito acerca de um filme que tenho de rever.
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