segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"You Only Live Once" - 1937




Nem tanto pela história, nem tanto pelo retrato social mas por esta cena - a peça central "armadilhada" do filme de Lang - , pelos olhares de Fonda que abarcam em si uma consciência comum, um descontentamento generalizado, e pelo retrato da violência (o contra-picado mais acidentado que eu já vi - Welles incluído - o assalto ao banco e a tal peça central).
Foi Claude Chabrol quem me ajudou a ver como Lang, reduzindo as escalas dos planos gradualmente, primeiro com o travelling para a frente e, por fim, com os close-ups fechados nos lados e à frente, também (o vidro que separa Fonda de Sidney), "faz" dessa cena uma das mais violentas do Cinema - crueza e brutalidade, e são só olhares, gestos ínfimos, planos "cortantes" - são coisas, coisas que ninguém faz agora, pormenores, lá está...
É ver Fonda, separado de Sidney pelo tal vidro, a olhar de "esguelha" para os dois lados e a pedir-lhe que se aproxime mais - ela fá-lo - o plano fecha, mais ainda, em Fonda, e ele sussurra de forma horrível a frase que ditará os acontecimentos da 2ª parte do filme: "Get me a gun, a gun, get me a gun". E é uma coisa terrivelmente simples...

Claro que a seguir à trilogia judiciária os estúdios tiveram que "abafar" Lang. Não se podia ter alguém a realizar de forma tão apurada e tão sem concessões (se nem agora há quem o faça), não naqueles tempos - era impensável...

* addendum: Qual Hitchcock, qual Preminger, foram Lang (na maior parte dos seus filmes) e Wilder (em algumas comédias mas em "Stalag 17" e "Ace in the Hole", principalmente) os mais cruéis retratistas da Humanidade, por isso é que a seguir a um Lang se deve ver um Kiarostami e a seguir a um Wilder, um Tati, são os antídotos...

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