quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

THE THIEF OF BAGDAD (1924)


1924 – USA (140') ● Prod. United Artists – Douglas Fairbanks Pictures ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. Lotta Woods e Elton Thomas (= Douglas Fairbanks) ● Fot. Arthur Edeson, P. H. Whitman, Kenneth MacLean ● Efeitos especiais. Hampton Del Ruth ● Cen. William Cameron Menzies, Irvin J. Martin, Anton Grot, Paul Youngblood, H. R. Hopps, Harold V. Grieve, Park French, William Hutwich, Edward M. Langley ● Fig. Mitchell Leisen ● Int. Douglas Fairbanks (Ahmed), Snitz Edwards (o cúmplice), Charles Belcher (o homem santo), Julanne Johnston (a princesa), Anna May Wong (a escrava mongol), Brandon Hurst (o califa), Winter-Blossom (a escrava do alaúde), Tote Du Crow (o adivinho), Sojin Kamiyama (o príncipe mongol), Noble Johnson (o príncipe hindu). 
 
Em Bagdad, no presente eterno dos contos, Ahmed, jovem atlético e jovial, vive da rapina e do bom humor. Quando é apanhado em flagrante delito, a sua velocidade ou a sua astúcia geralmente permitem-lhe escapar ao castigo. Professa que Alá é um mito e que é preciso encontrar aqui em baixo a nossa felicidade. Um dia rouba a um mágico a sua corda mágica e, graças a ela, consegue entrar no palácio do califa. Mas encontra aí um tesouro muito mais precioso que as jóias que vinha roubar: a própria princesa, filha do califa. Ela vai-se casar em breve, mas ainda não escolheu o seu marido. Os pretendentes reais desfilam no palácio : o príncipe das Índias, o príncipe da Pérsia gordo como um chibo e o príncipe da Mongólia, que se quer apoderar não só da beldade mas também do poder e da cidade de Bagdad. Depois vem o príncipe das Ilhas e dos Mares: não é outro senão Ahmed, que se baptizou desta maneira para fazer boa figura. É ele que a princesa escolhe sem hesitar. Sem a máscara ele tem de lhe confessar que não passa de um ladrão e isso fá-la chorar. É capturado e açoitado pelos lacaios do califa, mas a princesa consegue fazer com que ele escape por uma passagem secreta. Ela diz a seu pai que se casará com o pretendente que lhe trouxer o tesouro mais raro. Enquanto o príncipe da Pérsia compra um tapete voador no bazar de Chiraz, o príncipe das Índias se apodera de um cristal mágico arrancado de um ídolo perto de Candaar e o príncipe dos mongóis põe as mãos numa maça não menos mágica na ilha de Wak, Ahmed quer ultrapassá-los a todos enfrentando os maiores perigos pelos belos olhos daquela que quer conquistar. Atravessa o Vale do Fogo e depois o Vale dos Monstros, onde corta a garganta de um monstro pré-histórico. Na caverna das Árvores Encantadas, uma árvore dá-lhe um mapa para que possa ir ao encontro do velho do Mar da Meia-noite, velho que depois de Ahmed matar um morcego gigante lhe indica no fundo das águas, com a condição de não cair na tentação das sereias, o sítio onde pode encontrar uma chave que dará acesso ao antro do Cavalo Alado. Ahmed atravessa os céus no dorso dele. Na Citadela da Lua encontra um manto que o pode tornar invisível e uma caixa mágica. Uma empregada traiçoeira, cúmplice do príncipe mongol, envenenou a princesa. Os três príncipes apressam-se, utilizando alternadamente o cristal para descobrir à distância que ela está em mau estado, o tapete voador para ir até ela e a maçã mágica para a tratar. Mas os exércitos do príncipe mongol, prontos para atacar há muito tempo, correm e apoderam-se da cidade. Graças à sua caixa Ahmed faz sair da terra um exército de cem mil homens que põe os mongóis em fuga. Com a ajuda do manto que o torna invisível liberta a princesa, que o califa lhe dá em casamento. Os dois amantes lançam-se ao céu no tapete voador, enquanto o narrador inscreve nos céus esta máxima: a felicidade tem de se conquistar. 
 
► A longa-metragem mais célebre de Douglas Fairbanks e um dos filmes americanos mais populares do mudo. A magia e o deslumbramento das «Mil e Uma Noites» encaixam perfeitamente e, por assim dizer, ontologicamente com a magia do cinema mudo (coisa que apenas os espectadores dessa época puderam sentir na sua plenitude, sem nada com que o comparar e medir). Sabe-se que Fairbanks era o verdadeiro artesão dos seus filmes, escolhendo o tema e os seus colaboradores, supervisionando em detalhe a realização e conferindo às suas obras o tom lúdico e alegre da sua própria personagem. A sua decisão mais importante foi contratar William Cameron Menzies, cujos imensos e incontáveis cenários constituem o principal atractivo do filme, pela sua estilização geométrica e abstracta. Com a sua ajuda, Fairbanks quis criar o que se pode chamar de filme expressionista invertido, um filme expressionista repleto de optimismo e alegria de viver. Walsh, que tem aqui uma obra muito menor e muito menos pessoal, por exemplo, que o Robin dos Bosques que Dwan tinha realizado no ano anterior com Fairbanks, deu ao filme um dinamismo evidente mas que permanece superficial; se Walsh se entendeu efectivamente de forma perfeita com Fairbanks, a sua personagem de banda desenhada inspirou-o pouco. Visto hoje, O Ladrão de Bagdad é destacado tanto pela atenção aos seus defeitos como às suas qualidades. O seu ritmo é deficiente o tempo todo. Não se passa praticamente nada na primeira parte, e na segunda, as provas iniciáticas de Fairbanks passam diante dos nossos olhos a um ritmo sacudido e artificial. Portanto hoje é quase impossível extrair do filme o mesmo prazer obtido pelos seus contemporâneos. 
 
N.B. As trucagens e as cores (um Technicolor maravilhoso) fizeram da versão inglesa do Ladrão de Bagdad (1940), produzida por Alexander Korda e dirigida por Ludwig Berger, Michael Powell, Tim Whelan, William Cameron Menzies, Zoltan Korda e o próprio Alexander Korda, uma obra muito superior a esta. Pelo contrário, a versão italiana de 1961 dirigida por Arthur Lubin (com Steve Reeves no papel principal) e a versão franco-inglesa de Clive Donner (1978) são perfeitamente medíocres.

Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.

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