quinta-feira, 25 de julho de 2013

APACHE DRUMS (1951)


É claro que Hugo Fregonese iria acabar por chegar aos olhos e às graças de Val Lewton. Prova-o a sequência nocturna de Saddle Tramp - como diz o Drew McIntosh aqui -, se não o provavam já as experiências estonteantes ainda na Argentina, Pampa bárbara e Apenas un delincuente, este último "peça tão poética, tocante e dinâmica como um mudo de Hitchcock ou de Walsh". Pois bem, não se anda nada longe disso, como não se anda longe das habilidades e minúcias de um Carpenter, dessa economia e desse saber raros de fazer tanto com tão pouco.

Posso martelar no óbvio e falar já do que Fregonese, Lewton e Charles P. Boyle fazem com a luz na sequência-final, na igreja cujas portas são a primeira coisa que vemos no filme, quando as forças exteriores e interiores se batem desigualmente e desalmadamente. Vinte ou menos minutos que são tempo bastante para um desenlace impossível de tão económico, para coreografias com velas, pistolas e cadeiras, para canções e percussões de guerra, para o breu e para os vermelhos de sangue a invadir as janelas altas tão altas que impedem qualquer defesa e para os terríveis tambores que fecham o espaço e matam aos poucos a esperança. Quando ela já não existe, Sally (Coleen Gray) pede a Sam Leeds (Stephen McNally) para dizer isso mesmo aos restantes e chegam ambos à conclusão que todos os outros hão-de querer "the truth", não há final feliz que desfaça esse desespero ou faça esquecer o ter-se ido tão longe. Que estejam índios do outro lado, não interessa, que este cerco é mais que universal. Receptáculo de todas as metáforas e de todos os medos...

É lá dentro também que se batem e resolvem conflitos antigos e que se fazem provas de valor merecedoras das quatro palavras, "This was a man", do reverendo irlandês do Arthur Shields de vários filmes de Ford. É de espaços tão pequenos, lotados e cercados como este, que nasce uma cidade e é daí que se lançam as sementes de uma sociedade. Depois de muito desespero, suor e sacrifício. Há as personagens serem estereótipos e há as personagens serem arquétipos, como aqui o são.

Já no anterior Saddle Tramp havia um desenlace ambíguo em relação ao destino do seu protagonista (nesse, Joel McCrea; neste, Stephen McNally), livre ou condenado a percorrer paisagens e talvez pensando sempre na frase que assombra o Neil McCauley/Robert de Niro do Heat de Michael Mann (revisto há pouquíssimo tempo e por isso, claro, aqui citado, que Mann não é estranho nenhum a estas andanças): "Don't let yourself get attached to anything you are not willing to walk out in 30 seconds flat if you feel the heat around the corner". Essa ambiguidade talvez seja resolvida em Harry Black, fabuloso filme com um Stewart Granger nos becos mais aguçados da angústia, em que também por uns momentos parece avistar-se porto seguro para lançar amarras. Mas aí tão depressa se avistam como se perdem de vista. Sobram outras coisas. Não tão seguras mas que chegam para passar os dias...

E diz-se "venham os próximos perigos e as próximas aventuras"...

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