1956 – USA (93') ● Prod. Fox (Buddy Adler) ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. Sydney Boehm a p. do R. de William Bradford Huie ● Fot. Leo Tover (DeLuxe Color-Cinemascope) ● Mús. Hugo Friedhofer ● Int. Jane Russell (Mamie Stover), Richard Egan (Jim), Joan Leslie (Analee), Agnes Moorehead (Bertha Parchman), Jorja Cutright (Jackie), Michael Pate (Harry Adkins), Kathy Marlowe (Zelda), Jean Willes (Gladys).
Num barco a caminho de Honolulu, Mamie Stover, uma animadora expulsa de São Francisco pela polícia, encontra um romancista rico, Jim Blair, que se interessa nela. Bem decidida a ganhar o máximo de dinheiro possível, Mamie trabalha num clube de dança de Honolulu, frequentado sobretudo por soldados americanos. Ela volta a ver Jim, que deixa a sua noiva por ela. Serve-se dele para realizar algumas operações bancárias proibidas pela directora do clube de dança que, apoiada por um capanga bastante violento, impõe uma disciplina muito rigorosa às suas pensionistas. Depois do bombardeamento de Pearl Harbor, Mamie tira proveito do pânico generalizado para comprar imóveis a preços irrisórios que depois vai alugar ao exército. A fortuna dela aumenta com os meses que passam. Ela e Jim têm o projecto de se casar. Antes de regressar à frente de guerra, Jim faz Mamie prometer deixar o clube de dança. Mas a directora aumenta tanto a sua comissão que Mamie continua a trabalhar para ela. Circula uma fotografia de Mamie entre os soldados da Marinha. Jim toma conhecimento disso e vai poder constatar no próprio clube que Mamie não manteve nenhuma das suas promessas. Acaba com ela definitivamente. Mamie vai distribuir a fortuna que tinha acumulado e vai voltar para casa.
► Um dos poucos filmes de Walsh (mais numerosos do que parece) baseados numa heroína feminina: cf. The Man I Love, Sea Devils, Band of Angels, The Sheriff of Fractured Jaw, Esther and the King. Muitas vezes, essas heroínas têm uma limitação básica para superar (aqui a educação perdida e a renúncia paterna) para atingir o seu objectivo ou encontrar o seu equilíbrio. Ainda que atenuado, o retrato de Mamie Stover situa-se totalmente fora do maniqueísmo de um certo cinema hollywoodiano e encontra aí a sua originalidade. Walsh, que é o contrário de um puritano, não se sente nada impelido a condenar a ambição de Mamie Stover nem os meios que emprega para a satisfazer. Terá outros além desses à sua disposição? O amor dela pelo dinheiro exprime uma sede de honorabilidade, um gosto pela ascensão que a aproxima doutras personagens de Walsh extremamente diferentes dela, como o herói de Gentleman Jim. Mas pela sua fúria de acumular, que já não vai conseguir conter, pertence bem a essa família patológica de que faz parte um grande números de heróis de Walsh no pós-guerra. Em cada filme que realizou em scope, Walsh utiliza esse formato de forma admirável. Aqui, com um argumento escrito de forma económica, alinhado em poucos lugares e em poucas cenas, ganha alcance, tanto no plano plástico como dramático, um ritmo amplo e calmo que o permite observar a sua heroína com um olhar simultaneamente tranquilo e crítico, familiar e distante. O seu génio também irrompe nesse brio em delimitar, em algumas cenas ou nalguns planos, a silhueta definitiva e no entanto subtil de uma personagem secundária (a proprietária do clube de dança interpretada por Agnes Moorehead) e o contorno inesquecível de uma personagem episódica (o fuzileiro febril que se arruina em bilhetes para poder jogar às cartas com uma das animadoras). O desvanecimento relativo sofrido pelo romance de Bradford Huie não deve esconder os méritos nada negligenciáveis deste filme.
Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.
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