1952 – USA (98’) ● Prod. RKO (Edmund Grainger) ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. Allan LeMay a p. de uma história de DeVallon Scott ● Fot. William E. Snyder (Technicolor) ● Mús. Victor Young ● Int. Robert Newton (Barba Negra), Linda Darnell (Edwina Mansfield), William Bendix (Ben Worley), Keith Andes (Robert Maynard), Torin Thatcher (Morgan), Irene Ryan (Alvina), Alan Mowbray (Noll, o louco).
No século XVII, a rota das Índias está infestada de piratas. Num navio do qual se apoderou o célebre Ned Teach, também conhecido por Barba Negra, encontram-se Edwina Mansfield, a encantadora filha adoptiva de Sir Henry Morgan, capturada pelo pirata, e Robert Maynard, um médico que se introduziu dentro da tripulação com a intenção de roubar o diário de bordo. Na verdade, Maynard é pago pelo governador da Jamaica para desmascarar Sir Henry Morgan, pirata reconvertido, que recebeu a missão de perseguir os seus antigos colegas do rei de Inglaterra e que, de facto, não deixou de se dar bem com eles. O diário de bordo vai permitir provar indubitavelmente a sua duplicidade. Edwina, ela própria filha de um pirata, arrasta consigo as jóias do tesouro que roubou a Morgan. Mas a sua seguidora, demasiado faladora, falou com Barba Negra, vivamente interessado por essa revelação. Tendo posto as mãos no tesouro, Barba Negra recusa-se a partilhá-lo com a sua tripulação e enterra-o numa ilha por baixo de uma grande pedra. Depois de um combate brutal com os homens de Morgan, Barba Negra atira sobre um indígena que é seu sósia. Engendrou bem o seu plano porque Morgan, ao cortar a cabeça do cadáver, pensa tratar-se da do seu inimigo e exibe-a na praça de Port Royal. Como prémio pela sua proeza, torna-se governador da Jamaica. Mais tarde, descobre que Barba Negra não está morto e voltou a formar a sua tripulação. Sobe a bordo de um galeão espanhol para tentar o pirata que, como é óbvio, não vai querer deixar fugir esta isca magnífica. Desta vez, Barba Negra não fica com a vantagem. Em mau estado, serve-se então de Edwina, caída novamente nas suas garras, como refém. Os homens de Morgan recebem a ordem de abandonar o combate. Barba Negra vai à ilha procurar o seu tesouro. Os homens dele surpreendem-no quando o quer transbordar para um bote. Combate... O tesouro cai ao mar, perdido para todos. Furiosos, os marinheiros enterram Barba Negra na areia, deixando-lhe apenas a cabeça de fora. É logo varrida pela maré. Maynard e Edwina, apaixonados um pelo outro, fogem juntos em direcção ao mar aberto, virando os olhos a este horrível espectáculo.
► Obra completamente menor de Walsh (argumento complicado e desleixado, orçamento insuficiente) e no entanto indispensável à sua filmografia. É que a figura do Barba Negra, a partir de uma série de episódios confusos e sem grande interesse, sobressai de forma admirável. Este monstro alegre e feroz, espécime da humanidade como que vindo de outro planeta, nunca foi tão bem descrito na sua vitalidade, na sua truculência, na sua amoralidade e na sua desmesura. Criatura solitária, pertence a uma raça da qual seria por assim dizer o único representante. Possui todos os vícios e todos os apetites do homem, mas levados a uma dimensão sobre-humana que claramente fascina e alegra o nosso cineasta. Walsh retrata-o numa atmosfera plástica refinada, que aparentemente não lhe dá esforço algum. Com alguns elementos de cenário, um mastro, uma vela, um pedaço de céu, e também com a beleza de Linda Darnell, ele desenha no movimento quadros fugitivos de mestre, dignos dos grandes pintores espanhóis pelo seu esplendor.
Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.
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