quarta-feira, 18 de novembro de 2020

THE NAKED AND THE DEAD (1958)


1958 – USA (135') ● Prod. RKO (Paul Gregory) distribuído pela Warner nos USA ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. Denis e Terry Sanders, Raoul Walsh, a p. do R. de Norman Mailer ● Fot. Joseph LaShelle (Technicolor, Warnerscope) ● Mús. Bernard Herrmann ● Int. Aldo Ray (sargento Croft), Cliff Robertson (tenente Bob Hearn), Raymond Massey (general Cummings), Lili St. Cyr (Lily), Barbara Nichols (Mildred Croft), William Campbell (Brown), Richard Jaeckel (Gallagher), James Best (Ridges), Joey Bishop (Roth), Jerry Paris (Goldstein), L.Q. Jones (Woody Wilson), Robert Gist (Red), Casey Adams (coronel Dalleson). 
 
Depois de admirarem ruidosamente o striptease de Lily, amiga de um deles, que acontece num bar de Honolulu, os homens do pelotão do sargento Croft são enviados para participar na conquista de uma ilha do Pacífico. Mal desembarcam numa das três vagas de assalto planeadas com júbilo pelo general Cummings, Croft ordena-lhes que cavem buracos. Alguns reclamam contra essa ordem que, no entanto, lhes salvará a vida alguns momentos depois. Croft, guerreiro bruto soberbo feito para matar e para sobreviver, é detestado por uma parte dos seus homens que odeiam a sua dureza e a sua desumanidade. É admirado por outros que asseguram a justeza instintiva das suas decisões, o seu conhecimento do terreno, a sua autoridade de líder. Croft ama o exército como a sua primeira e única família ; não tem lar nem pais e desde que a mulher Mildred o traiu, a misoginia dele não conhece limites. Depois de um ataque surpresa aos japoneses, ordena a um dos seus soldados que regue os cadáveres de balas. É a coisa certa a fazer uma vez que, efectivamente, um dos japoneses ainda estava vivo. Croft dá-lhe um cigarro, chocolate e pega-lhe nos documentos. Alguns segundos depois, mata-o. Sadismo ou realismo? Em todo o caso, o homem estava-se a preparar para lançar uma granada. Croft está prestes a abater um grupo de prisioneiros quando surge o jovem tenente Bob Hearn que o impede e leva os japoneses. Hearn é o protegido do general Cummings, que fez dele seu ajudante de campo. Tendo levado uma vida de playboy como civil, Hearn adquiriu uma certa maturidade em contacto com as realidades da guerra e procura tornar-se um oficial justo e amado pelos seus homens. Nesse ponto opõe-se a Cummings, que pensa que é preciso dominar os seus inferiores pelo medo que lhes inspira : na sua opinião, apenas ele lhes dará a coragem para lutar e vencer. O pelotão de Croft é enviado para apoiar outra patrulha. Os homens dele abatem japoneses apanhados a atravessar um rio a descoberto. Cummings anuncia ao seu estado maior que o inimigo foi forçado a retirar. É felicitado pelo coronel Dalleson. Os homens de Croft fazem um alambique no meio da selva. Croft cura à pancada um soldado vítima de uma crise de demência que o tomava (ou fingia tomar) por um japonês. Durante uma bebedeira, Croft, bêbado, fala do seu ódio pelas mulheres e censura aos seus homens a sua ausência de espírito corporal. Cummings fica decepcionado com a falta de compreensão do seu protegido Hearn, que se recusa a aceder aos seus pontos de vista. Tenta subjugá-lo em vão e depois envia-o para comandar o pelotão de Croft, recentemente encarregado de uma missão de sondagem muito perigosa numa ilha montanhosa. O pelotão ataca uma patrulha japonesa com granadas e chega às bordas de um desfiladeiro guardado por japoneses. Um soldado, ferido, morre. O tenente Hearn quer dar meia-volta. Para o impedir, Croft proíbe um dos seus homens que volta de uma busca nocturna ao desfiladeiro de dizer que viu japoneses. No dia seguinte, Hearn é gravemente atingido e é levado por três homens numa maca. Croft retoma assim o comando do seu pelotão que obriga a contornar a montanha. Enquanto atravessam uma encosta íngreme, um homem cai. Mais tarde, Croft, indo para a frente do inimigo com uma temeridade extrema, é levado por um tiro. Um soldado avistou no vale uma massa considerável de japoneses, de tanques e de artilharia. É enviada uma mensagem de rádio ao alto comando. Hearn é levado são e salvo para o barco e exige que se espere a chegada do pelotão. Os sobreviventes aparecem pouco depois. Ganha-se uma grande vitória sobre o inimigo graças às informações fornecidas pelo pelotão de Croft e graças às ordens dadas pelo coronel Dalleson. Cummings, esse, estava completamente enganado na apreciação da situação. Vai ver Hearn à enfermaria. Hearn afirma-lhe estar agora convencido que é ineficaz e perigoso querer comandar pelo medo. Ele próprio só deve a sua salvação à devoção dos seus soldados que o transportaram numa maca durante dezenas de quilómetros pela selva. De cabeça baixa, Cummings assiste ao regresso das tropas vitoriosas. 
 
► Um dos enormes filmes de guerra do cinema americano. A obra tem tanto de único e grandioso que é simultaneamente um estudo de caracteres e uma narrativa épica, de mise en scène ampla e densa, mostrando o homem face ao inimigo militar, e também face ao seu inimigo mais íntimo, isto é ele próprio. Depois da serenidade e do dinamismo de Objective, Burma!, para Walsh é tempo da ambiguidade, da complexidade dos pontos de vista e das personagens. A personagem do sargento Croft fez correr muita tinta devido ao seu realismo agressivo, à sua verdade perturbadora. Ele não entra em nenhum dos estereótipos do filme de guerra, embora seja uma criatura totalmente fabricada pela guerra e no final destruída por ela. Se Raymond Massey encarna um oficial de alta patente tentado pelo fascismo devido a uma fragilidade e de um desequilíbrio íntimo que fazem dele indubitavelmente o mais miserável das três personagens principais da história, se o tenente interpretado por Cliff Robertson expressa o desejo de encontrar uma concepção humanista das relações entre oficiais e soldados, Croft (a quem Aldo Ray deu um rosto inesquecível) está lá para lembrar que não há visão humanista possível da guerra. A evolução da sua personagem é característica do que há de mais walshiano nos filmes de Walsh do pós-guerra. Croft, grande profissional da matança, ás da sobrevivência, vai ser finalmente destruído pelas suas próprias tendências destrutivas, por um excesso de ousadia e de confiança em si mesmo. (Note-se que ele não morria no romance de Mailer.) Esta passagem dos limites por uma personagem cujo instinto de vida, transbordante e excessivo, se torna um instinto de morte, também existe em White Heat (Fúria Sanguinária). Há outros dois aspectos que contribuem para a riqueza deste filme-total. No seio destes conflitos de homens, picarescos e cruéis, Walsh instala uma colecção memorável de mulheres, em particular nos flashbacks. Mais que o repouso do guerreiro, elas são o seu devaneio, a sua obsessão e por vezes a sua loucura. Finalmente, há um humor constante, tipicamente walshiano, feroz e por vezes imenso, a dar a este fresco uma tonalidade sombria de farsa, às vezes digna de um Bruegel.

Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.

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