David Samuel Peckinpah é lembrado como "one of the major filmmakers of the 1970s, with his innovative and explicit depiction of action and violence" (Wikipedia). É verdade, ele captou a acção e a violência como ninguém mas Peckinpah não era um cineasta que se limitava a fazer filmes de acção e westerns. Ele foi alguém que explorou e estudou o Ser humano: o seu uso da violência, chegando à conclusão que o Homem usa a violência para comunicar, para existir, para se impôr: Somos todos eminentemente violentos.
Isto não quer dizer que Peckinpah fosse o mais acérrimo defensor do uso da violência (claro que sempre o rotularam como tal: nos anos 70 baptizaram-no de "Bloody Sam") mas antes alguém que simplesmente constatou que a violência é algo inerente à própria condição humana.
E finalmente, Sam Peckinpah explorou a relação do próprio espectador com a violência: Pôs o espectador deleitado com os "banhos de sangue" de "The Wild Bunch" e a torcer por vilões, por foras-da-lei em quase todos os filmes.
E é aqui que Peckinpah se diferencia dos meros realizadores de filmes de acção. Na maior parte dos filmes, o espectador assiste de forma passiva à violência: não pode ajudar e sabe que é um filme. Sam Peckinpah transcende esta forma de experienciar um filme, fazendo com que o espectador tire um prazer mórbido e cruel da violência e transformando-o num ser deplorável.
Em "Straw Dogs" (que para todos os efeitos não é uma obra-prima) Dustin Hoffman interpreta um matemático chamado David Summer. Ele vai viver com a sua mulher para uma aldeia remota na Inglaterra , que foi onde a sua mulher viveu durante alguns anos. Lá, têm que reparar a casa e chamam um grupo de homens para o fazer, entre os quais Charlie Verner - antigo amante de Amy.
Tudo isto vai desembocar na cena mais controversa da obra de Peckinpah. Uma violação: ambiguidade, prazer e sofrimento. Sadismo misógino segundo as feministas, Peckinpah foi inclusive acusado de fascista.
Porque é uma violação que não parece ser uma violação, porque Peckinpah "tudo" fez para a tornar mais bela e porque a cena causa um desconforto quase sem paralelo.
No fim do filme, depois do trepidar, do escalar da violência, interrogámo-nos sobre as questões que ao filme se ligam e estudamos também nós a violência inerente ao ser humano. Peckinpah disse que o filme era o fruto das suas obsessões com a Violência que a seu ver resultava na incapacidade do Homem comunicar.
Pauline Kael (maior defensora de Peckinpah) considerou Straw Dogs uma obra-prima:
Probably one of the key films of the 70s. Its vision is narrow and puny; Peckinpah sacrifices the flow and spontaneity and the euphoria of spaciousness that have made him a legend--but not the savagery. The only beauty he allows himself is in eroticism and violence, which he links by an extraordinary aestheticizing technique. When the wife is raped, the rape has heat to it and what goes into that heat is the old male barroom attitude: she's asking for it.É um óptimo filme, reflexo das obsessões/preocupações do seu realizador mas esmorece quando comparado a "The Wild Bunch", "Bring Me The Head of alfredo Garcia" ou "Cross of Iron", que são para mim o ponto máximo da sua obra.
3 comentários:
E ainda há o "Pat Garret & Billy the Kid" e o "Ride the High Country". Mais duas obras primas "menores". Mas é um senhor.
O "Pat Garret e Billy The Kid" é um clássico esquecido. Dizem que a Director`s Cut (que ainda não vi) é tão boa como o "Wild Bunch". O "Ride The High Country" é outro dele que me falta ver.
Até agora, o meu filme preferido dele é mesmo o "Bring Me The Head of Alfredo Garcia".
O Peckinpah é o elo de ligação perfeito entre o Cinema Clássico e a Nova Hollywood. É um grande realizador.
Gosto muito também do Walter Hill, que é uma espécie de descendente dele.
Aconselho-te por a veres por exemplo o "Selvagens da Noite", "Estado de Guerra", ou "A Fronteira do Perigo"
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