sábado, 4 de julho de 2009

"White Hunter Black Heart" - 1990




Quando via filmes de Clint Eastwood (primeiro com, depois de e com Clint Eastwood) não pensava nele como um grande mestre do Cinema. Ele desenvolveu a sua "persona" cinematográfica junto de realizadores como Sergio Leone e Don Siegel (ele dedica aliás "Unforgiven" aos dois) e prolongou-a pelos anos 70 e 80 nos seus próprios filmes: de "High Plains Drifter" até "Pale Rider", e os resultados estavam longe de ser desinteressantes, mas não permitiam que ele figurasse (quanto a mim) junto de mestres como John Ford ou Howard Hawks. Os filmes eram para mim grandes divertimentos e pequenas homenagens aos mestres do passado. Eram...



Porque desde que vi Gran Torino no Cinema, fiz uma enorme reavaliação da obra de Eastwood e vi mais filmes dele que não tinha ainda visto: e os mais importantes para mim são "The Bridges of Madison County" e este "White Hunter Black Heart".
Este "trio" deu um novo significado à obra de Eastwood e permitiu-me "descobri-lo" como um grande cineasta:
Eastwood aparece nestes filmes, não como um mero clone da sua "persona" (isto não quer, propriamente, dizer que ache que Eastwood fizesse más interpretações, mas sim que a fórmula estava gasta), mas com interpretações de tirar o fôlego, verdadeiras transformações dramáticas: da subversão da sua habitual personagem em "Gran Torino", passando pela "subtil" mas ao mesmo tempo intensa interpretação em "Madison County", e acabando na PRODIGIOSA composição em"White Hunter Black Heart":



Neste filme, Eastwood interpreta John Wilson, um realizador que está a trabalhar num filme em África. Cedo se percebe que se trata duma dramatização da rodagem de "A Rainha Africana" de John Huston e isso é graças à brilhante composição de Eastwood (que torna seus todos os tiques do famoso realizador e argumentista). E é através dessa interpretação, que Eastwood evoca as memórias da colonização, denuncia o "american way of life" e faz uma avaliação da sua própria pessoa através da pessoa de John Huston: Porque no fim do filme não sentimos que Huston/Eastwood é um vilão por tudo o que fez, mas sim um ser Humano complexo, como todos nós.
Porque o filme, apesar da sua simplicidade aparente (e tenho vindo a descobrir que todos os filmes de Clint Eastwood parecem simples) é complicadíssimo de digerir, de avaliar e isso sob todos os pontos de vista. Clint podia julgar Huston de modo condescendente e com uma atitude superior, podendo adequar a interpretação a esse nível... mas não o fez, preferiu criar uma personagem que nos não remete para uma ou duas pessoas, mas para uma infinidade delas, uma personagem colectiva e Humana com tudo o que de bom e de mau esse rótulo pode trazer.
Como profundo estudo da Humanidade merece figurar ao lado de filmes de Antonioni ou Tarkovsky, e só não é "A" obra-prima da passagem dos 80 para os 90, porque há "Close-Up" de Abbas Kiarostami. É o melhor filme de Clint Eastwood...


Crítica de Jonathan Rosenbaum
Crítica de Roger Ebert

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