quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A Hollywood de outrora..


Going My Way (1944), de Leo McCarey

De 1939 a 1945, e durante a segunda Guerra Mundial, Hollywood ganhou consciência social, apercebeu-se do seu poder, se assim se quiser dizer (o film noir nasceu dos escombros da guerra e é o equivalente americano do neo-realismo). Dito isto, e sabendo que posso estar a generalizar, qual é a consciência (social, moral, estética) que tem agora?

A diferença de qualidade entre estas duas Hollywoods não se explica de tom leve, obviamente, mas existe. Não se explica também pela distância da primeira em relação à segunda, argumentando que o tempo e a História farão jus ao cinema contemporâneo americano, ou dizendo que filmes como Young Mr. Lincoln, To Have and Have Not, Meet Me in St. Louis, I Walked With a Zombie são clássicos, sob o véu do preto e branco ou do technicolor. O do Tourneur é mais pós-pós-moderno que qualquer coisa que saia dos fornos da fábrica dos sonhos, ou fora dela, hoje em dia; cúmulo da arte da realização e da montagem, do ritmo - insuperável. Porque há um fosso entre este Tourneur, entre Ford, Hawks, Capra, Minnelli, Welles, Wyler e McCarey (falando de cineastas americanos activos nestes seis anos), e um Scorsese, um Spielberg, um Cameron, um Nolan (pelo menos os dos últimos anos) - a generalidade do actual cinema industrial americano.

O fosso terá muitas explicações, mas antes de me dedicar a esse exercício, quero fazer-me explicar, dizer em que consiste o fosso. O cinema industrial americano já não move consciências, já não é espiritual, já não se dedica a grandes temas, já nem personagens tem. Se se tenta consciencializar, fá-lo rotinamente, ok lá temos nós que fazer mais um filme sobre o Iraque (haverá filme mais forçado e mais banal que o Brothers do Jim Sheridan?), mas sobretudo fá-lo sem conseguir apelar o público. Nos anos 40, venceram os Óscares quatro filmes sobre a segunda guerra Mundial (Mrs Miniver, Casablanca, Going My Way, The Best Days of Our Lives), filmes que retratavam a sociedade contemporânea a essa guerra (Gentleman's Agreement, The Lost Weekend) e filmes que, de uma forma ou outra, aludiam a essa guerra (How Green Was My Valley, All the King's Men). Esta década, premiou um musical (dois se contarmos o Slumdog Millionaire), um filme de fantasia, um western, um biopic, um peplum e um filme de gangsters e teve que pôr a concurso, em 2009, um filme independente de 2008, para premiar algo sobre a Guerra do Iraque. Premiou, em 2005, outro filme independente que funciona como ressaca do 11 de Setembro (mas que, diga-se, exagera no drama e na lágrima), e não teve a coragem de premiar (ou sequer nomear) The 25th Hour, a obra-prima de Spike Lee e ENORME filme americano (2002 foi um ano extraordinário). As derrotas e os erros militares são bem mais difíceis de digerir que as "vitórias", como nos mostrou a década de 70 e a ressaca do Vietname, e a Academia (a Indústria também) andou alienada do conflito até premiar The Deer Hunter, em 1979 (e destruir Cimino no ano seguinte). Esta cena uniu público e Indústria, "tocou" o povo, moveu consciências - ainda não houve coisa semelhante, mesmo que transposta, para os dias de hoje.

O fosso não é tecnológico, se bem que a tecnologia ande a contribuir para afastar o Cinema das suas ambições espirituais, o encontrar um lugar no mundo, origens, poesia e montagem. O fosso pode passar pela riqueza artística, a variedade de génios e talentos europeus que existiam, e não existem agora, em Hollywood, coisa única, coisa especial, Lang, Wilder, Kazan, Preminger, Ulmer. No entanto, a consciencia de que falo vinha sobretudo de cineastas americanos (Wilder, Lang e Kazan igualavam-nos, mas não os chamemos para aqui). O fosso passa pela preguiça imaginativa que a liberdade artística trouxe - assim mesmo - as metáforas imaginativas de Hawks e Minnelli foram substituídas pela literalidade sem ideias de Scott e Marshall (o do Chicago). Não há montagem nesses filmes. Os planos sucedem-se, sim, mas não há nada a ligá-los (e não me perguntem porquê, é uma coisa que sinto, a ver o circo de banalidades formais que é o American Gangster, por exemplo), nada a não ser a segurança, o jogar pelo seguro, as dezenas de milhões são melhores que qualquer montagem.

Mas que não se diga mal do dinheiro, que também é fugir à questão. Em 1944 estreou Going My Way, de Leo McCarey (um dos grandes realizadores americanos ignorados pela teoria do autor) que ganharia os Óscares no ano seguinte e enriqueceria o seu realizador desmedidamente. É um filme de estúdio, é um filme de Indústria, mas uniu combatentes e famílias, soldados e mulheres, filhos e mães duma maneira que não é hoje possível. O filme não é perfeito mas é sincero, há uma verdade emocional naquilo. Há algum risco também, era um projecto pessoal do realizador, semi-biográfico, as personagens ganham vida algures nos meandros e segredos da realização. Algures. McCarey e Minnelli fizeram nesse ano filmes sobre a gente que ficava, filmes comerciais, de milhões de dólares, de milhões de espectadores, e a guerra, a saudade, o terror, sentiam-se nas lágrimas de Margaret O'Brien, a tristeza de um momento em Meet Me In St. Louis (que, por essa sequência, é um dos mais importantes filmes americanos - um dos mais belos grandes planos do Cinema, o de alguém apaixonado, Minnelli por Garland), e em toda a personagem de Barry Fitzgerald em Going My Way. Nostalgia, de Ford a Tarkovski, passando por Minnelli e McCarey. Falta encanto, falta magia, falta assombramento.

Digo que não são hoje possíveis cenas assim, porque o Cinema americano deixou de ser popular. Faz dinheiro mas não é popular, não com a ternura e o afecto que o era, entenda-se, não é do povo. Nós também não nos tornamos mais ternos e afectuosos. É tudo muito triste.

Meet Me In St. Louis (1944), de Vincente Minnelli

O Cinema americano morreu, viva o cinema americano.

Too ra loo ra loo ral, too ra loo ra li
Too ra loo ra loo ral, hush, now don't you cry
Too ra loo ra loo ral, too ra loo ra li
Too ra loo ra loo ral, that's an irish lullaby

16 comentários:

Álvaro Martins disse...

Concordo plenamente. Muito bem dito, parabéns pelo texto :)

João Palhares disse...

Obrigado, Álvaro.

João disse...

Muitos parabéns pelo texto João.

É impossível que Hollywood volte ao que era. Nem hoje nem daqui a 50 anos. Não enquanto não se mudarem mentalidades por aqueles lados. Não há pingo de sinceridade vindo dos estúdios.

João Palhares disse...

Penso que é isso, sim, há uma fachada intransponível. Mentira e logro. Na Indústria mais imponente, e com mais meios, já nada é complexo, já nada se dispõe a mais que uma leitura, é tudo literal e pobre. Podre. Penso haver excepções, mas mesmo para essas o fosso se aplica..

E obrigado, João.

João Lameira disse...

Ò João, estás a incorrer em dois erros fundamentais: confundir o cinema americano com os óscares; não perceber as enormes diferenças na produção e distribuição de filmes depois da década de 70.

A Academia premiou os filmes da Segunda Guerra por propaganda, para levantar a moral da populaça, porque era uma guerra "justa". Tu estás a recriminá-la por não ter feito o mesmo com o Vietnam ou com o Iraque.

"O Mensageiro", de Oren Moverman, é um bom filme sobre a ressaca do Iraque, por exemplo.

O Cimino auto-destruiu-se, a megalomania tem dessas coisas.

Depois falas do cinema independente como se não fosse cinema americano. Nos anos 30/40/50 não existia cinema independente, porque os estúdios funcionavam como uma oligarquia que dominava tudo e todos (um sistema perfeitamente ignóbil). Ele só aparece quando os estúdios começam a perder o seu poder, a ser comprados por grandes conglomerações, etc. E aparece em força a partir dos anos 80. (Sei que estou a saltar os filmes de série B.) É perfeitamente injusto que excluas Jim Jarmusch, James Gray, Paul Thomas Anderson, Wes Anderson, David O. Russell, Spike Lee, Whit Stillman, Noah Baumbach, Abel Ferrara, Michael Mann, Quentin Tarantino, David Lynch, Sofia Coppola (são só os primeiros nomes que me vêm à cabeça, há mais) da tua comparação com os mestres de antanho.

Filmes com consciência social? Pareces a personagem do Joel McCrea no "Sullivan's Travels", do Preston Sturges, cineasta muito consciencioso que quer fazer um filme sobre a pobreza e a miséria, para descobrir que, em épocas de crise, uma bela comédia ou um musical (ou um filme de aventuras, ou um filme de ficção científica) são o melhor antídoto para a depressão.

(Sou o João Lameira do numa paragem do 28, mas só consegui comentar com a minha antiga conta do Blogger.)

João Palhares disse...

Discussão, altamente! :)

O consciência social é uma expressão infeliz, sou o primeiro a admiti-lo (gostei da analogia ao Sturges, também, eheh), e não devia ter inserido o Tourneur no grupo, que ele era série B. Mas o Ford, o Hawks, o Minnelli, o McCarey e o Wyler eram a gema da Indústria, na altura, é por isso que os comparo ao Spielberg, ao Cameron e ao Scott e excluo todos os outros que referes. Daí os Óscares. Não me parece descabido..

Eu sei do sistema de estúdios, conheço minimamente a história do apogeu e do colapso desse sistema (senão não escrevia o texto), e da tentativa nostálgica do Coppola em o trazer de volta nos anos 80, também. Nessa altura, anos 40, eles controlavam tudo, da produção à distribuição, tinham os seus próprios cinemas, não havia flops ou box office bombs como há hoje. Mas e daí?

O essencial é o sentimento, era aí que queria chegar.. o Meet Me in St. Louis e o Going My Way são filmes charneira (o primeiro mais que o segundo), fizeram as pessoas pensar na Guerra, sob temáticas aparentemente escapistas, o virar do século e o provincianismo. Não há como a nossa casa, é o título em português, parecem coisas mesquinhas mas os realizadores sabiam dar a volta à coisa. Basta ver essas duas cenas que pus aqui...

As guerras usei-as, posso ter feito mal, para ilustrar que a Indústria norte-americana já não consegue captar, ou atingir, a alma colectiva, da maneira que conseguia. Nos anos 40 ir ao cinema era uma experiência sagrada, agora é um choque tecnológico. Ver filmes num centro comercial é quase pornográfico, parece-me absurdo, se é que me faço entender...

http://dacasaamarela.blogspot.com/2010/12/ver-aniki-bobo-em-2010.html

Não sei se leram isto no blogue Da Casa Amarela, mas acho que é coisa que dá para pensar, no mínimo, e tem a ver com isto mesmo. Fez-me pensar também que o que escrevi só toca o assunto pela superfície, por menos que isso.. "Produtos e não filmes, consumidores e não espectadores" diz-se ali. O fosso passa por nós, espectadores, também..

Isto já vai muito longo, espero que tenha respondido e que tenhas gostado da contra-argumentação.. eheh

João Lameira disse...

Também gosto de boa discussão, destas vale a pena.
Ora, deixa cá ver, o meu ponto era que comparar a gema da indústria de um e de outro tempo é injusto, porque a indústria é radicalmente diferente agora. Muitos desses nome que lancei se as coisas fossem como dantes estariam a fazer os seus filmes para os grandes estúdios. Na verdade, estão a fazê-lo, as produtoras independentes estão quase todas ligadas aos estúdios, mas isso é outra conversa. De qualquer, dissociá-los do cinema americano, como se fossem extra-terrestres, continua a parecer-me injusto.

Quanto ao resto, o cinema já deixou de ser sagrado há muito tempo. Isso dos centros comercias pode ser chato, o Alvaláxia, desde que deixou de ser do Paulo Branco, é terrível, já senti isso a que o Francisco Valente se refere, e nem sequer foi para ver um Oliveira.

E o futuro não é muito risonho, das salas pequenas em Lisboa, restam muito poucas, e não sei até que ponto o King vai resistir. É a vida. Eu nem me importo de ir ao Corte inglês, que passa os filmes da Midas, mas já ver filmes do Rivette na sala do terror do Campo Pequeno é uma experiência pouco agradável.

(Só duas pequenas provocações: se é sentimento que queres, olha que o Spielberg andou perto dele, mesmo na acepção que lhe dás. E queres um realizador mais Minnelliano do que o Scorsese, tanto, que até namorou com a filha?)

João Palhares disse...

Atenção, eu só fiz a comparação entre os cinemas que fazem balúrdios de dinheiro e que ganham Óscares, nas duas alturas, não disse que eram o representativo do Cinema Americano. Só estou a falar de uma facção do cinema desse país, e o "Cinema Americano morreu, Viva o Cinema Americano", é mais liberdade poética que outra coisa, não é para levar à letra... porque sei que encontrar a fronteira entre a gema da Indústria americana e o cinema independente não é tão fácil quanto isso.. Acho o Jarmusch e o Thomas Anderson cineastas extraordinários..

O Spielberg tem os seus momentos, mas acho que olhar para estas sequências "sentimentais" (palavra traiçoeira), ou para os Minnellis em geral, é olhar (e esmiuçar) uma coisa mais complexa, verdadeira, justa. Não te sei explicar muito bem, mas os filmes de guerra do Spielberg, parecem-me a mim, mentiras pegadas por estarem completamente desligados do mundo a eles contemporâneos e exactamente por se excederem no "retrato", no "documento". O que não me impede de conceder ao Spielberg pelo menos duas obras-primas, o "Close Encounters" e o "AI".

O Scorsese perdeu-se algures pelo Casino, mas, claro, perpetua a forma "minnelliana" no seio da Indústria. Aliás, foi ele mesmo que me fez ver a complexidade desta sequência à janela do "Meet Me in St. Louis", que é mais que um musical. Mas não chega ser milleniano na forma. Falando desta geração, os "movie-brats", aqueles que mais vão de encontro àquilo que aqui descrevia como cinema "sentimental", consciente, ou de união de consciências, eram o Cimino e o Coppola. Acho que a queda deles das lides da Indústria ilustram muitíssimo bem a perda gradual de delicadeza e de graça (no sentido mais sagrado do termo) em Hollywood. (Mais do que a "mania das grandezas", expressão que para o Coppola se adequa até certo ponto mas que para o Cimino me parece injustíssima).

João Lameira disse...

joão, devo-te uma resposta, mas quis esperar por uma altura em que tivesse tempo para escrever longamente e com pés e cabeça. Como essas alturas teimam em não chegar, aqui fica a resposta possível:

O meu ponto, nisto tudo, era só esse: o cinema independente faz parte integrante do cinema americano e não deve ser dissociado dele.

Os filmes de guerra do Spielberg são horríveis, concedo (estou a pensar no Saving Private Ryan), mais "chocantes" do que "sentimentais". Mas o Minnelli não tem filmes de guerra propriamente ditos, tem o The Clock, que é belíssimo, mas é outra história, por isso, a comparação é complicada. O Spielberg é "sentimental" na tua definição (pelo que percebo dela) no Close Encounters e no E.T., por exemplo. Depois, tem excelentes filmes de aventuras, o Jaws, o Indiana Jones, mesmo o Minority Report, por aí fora, que davam outra conversa. Parece-me que se perdeu quando quis abordar temas "importantes", como outros, como outros, daí eu ter alguns problemas com a tua noção de haver falta de consciência social, etc.

O Scorsese é totalmente Minnelliano na forma, aqueles travellings são todos Minnelli, o soberbo "New York, New York" é todo Minnelli. Todo, todo, não, que o Scorsese subverte a forma com as suas obsessões, as suas psicoses. Nunca pretendeu unir consciências, felizmente, os seus filmes sempre foram acerca de si mesmo. Acho que não lho podes levar a mal. (Reconheço que últimos filmes são menores, o que eu atribuo não só a cansaço, como também a tentativas de atingir o reconhecimento da Academia, vulgo o Oscarzinho.

Conheço mal o Cimino, mas também não há muito para conhecer, tem uma obra relativamente curta. não vi o Heaven's Gate, por isso não posso falar da sua qualidade, mas sei que o Cimino conseguiu levar um estúdio à falência, porque foi cada vez demorando mais tempo para acabar o filme, gastando cada vez mais dinheiro, porque pensava que era o maior, depois de ter feito um filme bom mas não extraordinário, o Deer Hunter. Se isso não é megalomania, não sei o que é. A sua história lembra muito a do William Friedkin, outro cineasta que me parece menor. Não foi Hollywood que os fez perder, foram eles que fizeram perder Hollywood. O Heaven's Gate acabou com a ideia de um novo ciinema americano de autor feito nos estúdios (repara, acabou com a ideia, não me parece que ela algum dia tenha tomado forma).

O Coppola ainda é mais megalómano, certo, mas, felizmente para ele, tem um talento enorme também. Ele foi ao fundo com um filme belíssimo, o One From the Heart, mas podia ter ido antes com o Apocalypse (que é um filme perfeitamente demente e merecia bem mais o Óscar do que qualquer Caçador). Nos anos 80, quando fez aqueles filmes todos para pagar as dívidas, fez filmes maravilhosos - pequenos e "sentimentais" - porque teve de ser. Mas é como digo, tem um talento enorme. O Tetro do ano passado tem uma pujança inigualável.

João Lameira disse...
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João Lameira disse...
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João Lameira disse...
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João Lameira disse...

Desculpa, postei não sei quantas vezes o mesmo comentário e tive de os apagar.

João Palhares disse...

Hollywood já não tem o mesmo público de há umas décadas. Agora são os jovens que ditam as modas e os estilos, e não só mas também por isso, 90% da produção cinematográfica norte-americana é inconsequente.

Julgo que o cinema, na América, deixou de ter a importância, o poder, que tinha nos anos 40. É bom e é mau, dependendo de como se olha para a coisa. O Spielberg e o Lucas sõ os motores principais dessa mudança. O pior disto é que, fora algumas excepções (o Miami Vice e alguns Shyamalan's vêm à cabeça), deixas de ver "complexidade" (representativa, formal..) em grandes produções. Felizmente não há só blockbusters em Hollywood..

O Spielberg é sentimental, vá, mas é muito simples, e não o digo no bom sentido. Isto com o risco de ser injusto porque não vi o Munique e outros, por exemplo. Não vou tão longe como dizer que é um ditador das imagens como diz o Godard, mas não o considero um grande realizador..

O Cimino foi abaixo com um filme ainda mais belo que o "One from the Heart". Eu considero as desavenças dele com os estúdios, mais riscos do que megalomanias. Aquela fotografia a queimar, quase até ao limite absoluto, não seria nunca possível, agora. Mas são precisamente esses riscos que fazem do Heaven's Gate um grande filme. Ouvi um comentário áudio do Cimino e, para minha grande surpresa, era bem humilde, o que não quer dizer que não tivesse que travar algumas batalhas, para fazer prevalecer uma ideia, não por caprichos mas por necessidade, por fazer justiça ao filme, acima de tudo. É um escravo do Cinema, foi essa a ideia com que fiquei; o Coppola (como outros) acha-se superior ao Cinema.

Os filmes do Cimino, aliás, valem muito a pena. O "Sunchaser" é um dos mais belos dos anos 90.

João Lameira disse...

Quanto ao cinema americano, não vale a pena andarmos aqui às voltas, temos opiniões, não diria opostas, mas diferentes sobre o assunto.

Como escrevi, do Cimino conheço dois filmes, acho eu, e a ideia, possivelmente errada, de que o sucesso lhe subiu à cabeça. Mas já que o defendes tão apaixonadamente, dou-lhe o benefício da dúvida, um dia hei-de ver o Heaven's Gate (e o Sunchaser também) para tirar teimas.

Abraço. Feliz Ano Novo.

João Palhares disse...

Pois, a discussão já estava ali num impasse, eheh

Acho que o Cimino merece esse benefício. Força.

Abraço e Feliz Ano Novo!