terça-feira, 5 de julho de 2011

BROKEN BLOSSOMS (1919) – D.W. GRIFFITH

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"O cinema de Griffith reflecte a partir da invenção; o de Murnau descobre a partir da reflexão.

O cinema americano é apreensão do real concreto. Entre o olhar do cineasta e o objecto olhado subsiste, a todos os níveis, uma relação de eficácia. As coisas sendo o que são, adquirem espontaneamente o seu integral peso físico: “a tree is a tree” é o título dado por King Vidor a uma das suas auto-biografias. Nada de olhares turvos, de angustiantes e retóricas “dificuldades de visão” como o que pode considerar-se o exemplo extremo de um cineasta europeu enleado na teia confusa da sua incapacidade criadora: Antonioni.

Se as possibilidades do invento “sans avenir” de Lumière só no States foram globalmente entendidas, foi porque a evolução crescente de uma jovem civilização pragmática, necessitava de uma arte capaz de, por definição, espelhar fielmente a imagem da sua grandeza. O vigor social do cinema americano resulta do empenho dos seus criadores primitivos em prefigurar o curso dessa evolução. Griffith, o seu genial promotor.

Depois da beleza fulgurante de BIRTH OF A NATION, INTOLERANCE ou HEARTS OF THE WORLD, o lirismo velado de BROKEN BLOSSOM, se aparenta negar o estilo das obras precedentes, é para melhor o afirmar, na medida em que o não clarifica o sim e reciprocamente. É a passagem do fresco ao retrato, da sinfonia à sonata. O gesto heróico que acompanhava a majestade de um espaço profundamente aberto, recolhe-se no percurso íntimo de um décor difuso, onde os brilhos esplendorosos da ortocromática de Bitzer não têm cabimento. À importância da montagem que pulsava os ritmos nobres da epopeia, sucede-se a importância do “découpage” baseada nas relações dramáticas das personagens – flores batidas que se curvam ao peso da própria fragilidade, face a um meio demasiado corrupto e violento, e se extinguem suavemente, fechando-se sobre si próprias.

Griffith? Mas é essa suprema sabedoria de, através do actor, enriquecer ao extremo os sentimentos “naïfs”!

Com BROKEN BLOSSOMS, o cinema descobre a sua interioridade."

J. C. M.

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