1941 – USA (140’) ● Prod. Warner (Hal B. Wallis) ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. Wally Kline e Aeneas Mackenzie ● Fot. Bert Glennon ● Mús. Max Steiner ● Int. Errol Flynn (George Armstrong Custer), Olivia de Havilland (Elizabeth Bacon Custer), Arthur Kennedy (Edward « Ned » Sharp, Jr.), Charles Grapewin (California Joe), Gene Lockhart (Samuel Bacon), Anthony Quinn (Crazy Horse), Stanley Ridges (Major Romulus Taipe), John Litel (general Philip Sheridan), Walter Hampden (William Sharp), Sydney Greenstreet (general Winfield Scott), Regis Toomey (Fitzhugh Lee), Hattie McDaniel (Callie).
West Point, 1857. O jovem cadete George Armstrong Custer, vestido com um uniforme extravagante que mandou fazer à semelhança do de Murat, chega todo fogoso à célebre escola militar. É vítima de uma farsa de Ned Sharp, que vai ser o seu principal inimigo ao longo de toda a vida. O pior classificado dos alunos da sua turma, mas especialista em todos os exercícios militares e mais apto que qualquer outro a suscitar o entusiasmo dos seus subordinados, Custer vê-se patenteado com um ano de avanço para se poder ir alistar em Washington, pouco depois do início da guerra de Secessão, na 2ª Cavalaria. O general Scott, de quem se fez amigo, acelera o seu destacamento. Em 1861, Custer participa na batalha de Bull Run. Recusa obedecer ao seu superior Ned Sharp, põe-no K.-O. e passa ao ataque em vez de seguir uma ordem de retirada, em recompensa do que o general Sheridan lhe vai dar uma licença e uma medalha. Em Monroe, Michigan, a sua cidade natal, Custer encontra a jovem Elizabeth Bacon por quem se tinha apaixonado à primeira vista em West Point e pede que se case com ele quando se tornar general. De qualquer forma, o avanço dele anda mais rápido que as suas esperanças mais loucas e ei-lo efectivamente tornado general à cabeça da Brigada do Michigan, promoção que ao princípio vai tomar por uma boa farsa. Desobedece mais uma vez às ordens e toma a iniciativa de ir atacar as tropas de Jeb Stuart em Hanover com o 7º regimento do Michigan. É um fracasso. Volta ao assalto com os 5 e 6º regimentos; novo fracasso. Com o 1º regimento, provoca a rendição de Stuart e permite assim aos nortistas alcançar a vitória em Gettysburg. No regresso, é celebrado como herói e casa-se com Elizabeth. Ned Sharp e o seu pai William Sharp querem fazer as pazes com ele e pedem-lhe para ser o presidente da sua companhia de caminhos de ferro. Esperam assim vender inúmeras acções, graças à glória associada ao seu nome. Custer recusa. Agora que a guerra acabou, a inactividade pesa-lhe. A mulher vai ter de solicitar junto do general Scott um destacamento para ele, porque se pôs a beber. Sacrificando o seu conforto e a sua vida dourada, parte com Custer para Fort Lincoln, no Dakota. O primeiro feito de armas de Custer será deter Crazy Horse, o chefe dos Sioux. Descobre que Ned Sharp, proprietário de um bar, vende armas aos índios. Sem se preocupar com os procedimentos legais, manda fechar esse bar e põe fim ao tráfico de armas. Crazy Horse é libertado por um dos seus. Custer reformula a 7ª Cavalaria e dá-lhe a sua canção preferida, a melodia irlandesa «Garry Owen». Pacifica a região. Crazy Horse promete que o seu povo vai abandonar todos os seus territórios, com a condição de lhe deixarem o santuário dos Black Hills. Ameaça reunir todas as tribos e dar um último e sangrento combate se o acordo, uma vez assinado, for violado. Isto tudo não é conveniente para os negócios de Ned Sharp, que para retomar o comércio faz correr o boato, com o pai e o major Paipe (com quem Custer tinha outrora entrado em conflito em West Point), de que há ouro nos Black Hills. Para o sucesso do seu plano, os três homens precisam que Custer seja eliminado. Taipe faz reabrir o bar de Sharp antes de passar em revista o regimento de Custer, enquanto comissário do governo. Os cavaleiros estão todos bêbados: é uma debandada geral. Louco de raiva, Custer bate em Taipe. Vai a tribunal marcial em Washington. Sabendo-se vítima de uma conspiração, não consegue fazer-se ouvir e não vai poder provar que Taipe tinha sido comprado por Ned Sharp e o pai. Vai implorar ao Presidente Ulysses Grant que lhe restitua o seu comando e é bem sucedido. Como tinha anunciado Crazy Horse, as tribos índias executam a sua fusão, depois dos Black Hills serem infestados de exploradores de ouro. Na véspera do último combate, Custer obriga Sharp a esvaziar com ele uma garrafa de álcool. Custer faz um brinde à glória e Sharp ao dinheiro. Quando este último está morto de bêbado, Custer faz com que seja levado para o local dos combates. Depois despede-se da mulher e lê no seu diário íntimo que tem o pressentimento do desastre. Na batalha de Little Big Horn (25-6-1876), os homens da valorosa 7ª Cavalaria, lutam a dez contra um, caem numa emboscada e são massacrados. Ned Sharp, que não teve outra escolha senão combater, morre de armas na mão, pouco antes de Custer receber o golpe fatal. O seu sacrifício ajudou a infantaria do general Terry a aguentar-se até à chegada do general Sheridan. Depois da morte de Custer, a mulher utiliza uma carta dele para obrigar Taipe a demitir-se e consegue que o território dos Black Hills seja definitivamente entregue aos Sioux.
► Primeiro dos sete filmes que rodou com Errol Flynn na Warner, eis a obra-prima épica de Walsh para os anos 40 e 50. Flynn estava um bocado cansado da direcção ditatorial de Curtiz, com quem tinha feito doze filmes em seis anos, e essa fatiga, fortuita para a história do cinema, permite a Walsh explorar nele novas formas de sensibilidade e desenvolver, através de uma série prestigiosa de filmes, outras facetas da sua personalidade, umas vezes comoventes, outras vezes irónicas ou cínicas. Mantendo a sua distância em relação à História, deixando de lado o aspecto ambíguo e contestado do verdadeiro Custer, Walsh edifica com Flynn uma figura deliberadamente mítica, encarregada de exprimir o seu culto do heroísmo e dos valores que considera essenciais. Custer aparece aqui como um homem que vê de forma precisa, que diz a verdade, que odeia as concessões e cujo sacrifício sem ilusões servirá ao mesmo tempo a causa do seu país e a dos índios. Através das peripécias de um fresco biográfico que se espalha por 20 anos, Walsh também vê nesta personagem a oportunidade de dar vazão ao seu ódio pela política baixa, a especulação e a ditadura do dinheiro. Flynn encarna certamente uma personagem directa: apesar das virtudes que ele defende e o ódio que sente pelos Sharp, Taipe e outros tristes coexistirem mal dentro de si e o empurrarem finalmente para o caminho do sacrifício e da tragédia. O filme tem, sobretudo na última parte, algumas das melhores sequências da obra de Walsh. Não se pode esquecer a cena comovente e elegante da despedida de Flynn a Olivia de Havilland (neste último dos oito filmes que rodariam juntos) e, naturalmente, a carga final onde triunfa o estilo único de Walsh, aliando como ninguém o soube fazer a amplidão ao estremecimento, o frenesim dos planos aproximados à serenidade grandiosa dos planos de conjunto, verdadeiras pinturas, iguais em génio à mais bela pintura americana e, por exemplo, à de Remington que Walsh adorava.
N.B. Assinale-se algumas das aparições mais importantes da personagem de Custer no grande ecrã: nos traços de Ronald Reagan, como jovem amigo e companheiro de Jeb Stuart (Errol Flynn) lutando contra John Brown (Raymond Massey) no muito negro e muito dramático Santa Fe Trail de Michael Curtiz (1940); em Fort Apache de Ford (1948); como paspalho ridículo e abominável (Robert Mulligan) em Little Big Man (1970), o grande fresco picaresco e desmistificador em que Arthur Penn se inspirou no romance de Thomas Berger. Em 1967, Robert Siodmak rodou em Espanha um filme dedicado a Custer (Custer of the West) interpretado por Robert Shaw. É uma obra que dá uma no cravo e outra na ferradura e em que Siodmak não consegue, apesar dos seus esforços, transmitir uma síntese convincente da personagem. Custer inspirou igualmente, mais ou menos, várias personagens de westerns que levam outros nomes: como o oficial interpretado por Robert Preston em The Last Frontier de Anthony Mann (1955).
Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.
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