domingo, 5 de julho de 2020

DESPERATE JOURNEY (1942)


1942 – USA (107') ● Prod. Warner (Hal B. Wallis, Jack Saper) ● Real. RAOUL WALSH ● Gui. Arthur T. Horman ● Fot. Bert Glennon ● Mús. Max Steiner ● Int. Errol Flynn (tenente Terrence Forbes), Ronald Reagan (oficial Johnny Hammond), Nancy Coleman (Kaethe Brahms), Raymond Massey (major Otto Baumeister), Alan Hale (sargento Kirk Edwards), Arthur Kennedy (oficial Jed Forrest), Sig Ruman (Preuss), Ronald Sinclair (sargento Lloyd Hollis), Albert Basserman (Dr. Mather), Else Basserman (Frau Raeder). 

A equipa de um bombardeiro com o piloto australiano Terrence Forbes à cabeça recebe como missão ir aniquilar longe no território alemão uma estação importante situada nas proximidades da fronteira polaca. Uma vez alcançado o objectivo, o avião atingido pela DCA alemã tem de fazer uma aterragem forçada. Há quatro sobreviventes além de Forbes: o canadiano Forrest, o americano Hammond, o veterano escocês Edwards que pintou os cabelos para parecer mais jovem e ser admitido a combate (o filho dele morreu em Dunquerque) e por fim o jovem inglês Hollis, filho de um herói da Primeira Guerra Mundial. Eles põem fogo ao avião, um protótipo, e escondem-se na floresta vizinha. São cercados e capturados pelo inimigo. O major Baumeister interroga-os. Conseguem passar-lhe a perna, não sem levar os planos das fábricas secretas Messerschmitt. Pegam nos uniformes de um destacamento alemão e depois levam a carruagem-salão de Goering para ir até Berlim. Perseguidos por Baumeister, mas escapando-lhe sempre, põem fogo a uma fábrica de produtos químicos e bombas incendiárias. Hollis é ferido; um médico anti-nazi tenta operá-lo mas não o consegue salvar. Reduzido a quatro homens, o grupo atravessa a Alemanha. Em Münster, pedem asilo aos pais da assistente do cirurgião, que lhes tinha dado a morada. Mas caem numa armadilha porque um par de nazis tomou o lugar dos pais. Os quatro homens fogem pelos telhados; Edwards faz uma queda mortal. Perseguidos de carro pelo obstinado Baumeister, abandonam o veículo e andam por campos. Descobrem um avião inglês que os alemães estão a armar para destruir as reservas de água de Londres. Apoderam-se do aparelho e alcançam a Inglaterra. 

► Walsh descreveu a guerra em tons e sob aspectos bem diferentes: elogio da coragem e do sacrifício em Objective, Burma!, análise crítica e denunciadora em Os Nus e Os Mortos. Aqui, é sob a forma de uma grande caça ao tesouro, dinâmica e desenfreada, que a guerra aparece, através de peripécias próximas da banda-desenhada pelo ritmo e a sorte permanente que serve os desígnios dos protagonistas, ainda que, como equipa completa à partida, acabem com três sobreviventes à chegada. Numa sequência, o personagem interpretado por Flynn vai defender essa concepção da guerra como um jogo, afirmando que com uma hipótese em mil de voltar sã e salva, a pequena equipa, diminuindo a cada dia que passa, não tem nada melhor para fazer do que semear o máximo de destruição possível pelo caminho de volta, repleto de obstáculos. Esta exaltação da energia e de uma alegria de viver paradoxal, com o pano de fundo do cataclismo e da aniquilação, exprime uma das dimensões mais características da arte de Walsh: a acção brinca constantemente com a morte, a barbárie e a estupidez absurda de um inimigo casmurro que o autor se recusa a levar a sério. (O que não deixou de lhe ser criticado.) Banda-desenhada alegre e incrivelmente ritmada, Jornada Trágica é também um apocalipse impressionante visto através da admirável fotografia nocturna de Bert Glennon, plena de clarões deslumbrantes e fogos de artifício fulgurantes. Assim, os personagens exprimem sem frases e com os únicos meios de que dispõem a sua crença na vida. E sempre essa distância sublime de Walsh em relação ao seu material: aqui num filme de circunstância, rodado de forma que não podia ser mais a quente, tem a audácia de mostrar que a guerra não é uma questão séria, mas que no entanto é melhor ganhar, nem que seja para podermos um dia rir, divertir e reencontrar como irmãos.

Jacques Lourcelles, in «Dictionnaire du Cinéma - Les Films», Robert Laffont, Paris, 1992.

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