“La Coquillet le Clergyman” é, sim, o primeiro filme surrealista, mas a minha questão é outra: resistirá à comparação com o “Un Chien Andalou”, de Salvador Dalí e Luis Buñuel? - sem me alongar demais nesta questão e pedindo muita desculpa digo, apenas, que “Un Chien Andalou” é Cinema e “La Coquille et le Clergyman” é História do Cinema - é arquivo...
É, no entanto, uma manifestação vincada – radical - e um “divórcio”, ainda que muito rudimentar, em relação ao cinema "teatral" e “polido” de D. W. Griffith e uma interessantíssima incursão pelo sonho e pela paranóia de um padre (a repressão do desejo sexual é, assim, o motor principal).
As imagens não estão mais ao serviço de uma história, propriamente, nem de interpretações, gestos e olhares, mas de sentimentos – da ambiguidade e do caos – as imagens não mostram, ou pelo menos não literalmente, as imagens sugerem, valem por si (uma imagem é uma imagem) e não pelo que mostram. Tudo isto foram sugestões inovadoras, mas não exploradas em pleno, penso eu.
O autor do argumento, Antonin Artaud – associado ao movimento surrealista, “deserdou” o resultado final e não é pouco comum dizer-se, ou enfim, escrever-se que “La Coquillet et le Clergyman” é só surrealista por associação a Artaud. Não vou tão longe, até porque o filme reflecte a procura de pureza do Cinema, de distanciação e autonomia em relação às artes ditas maiores, de uma especificidade própria e demais notória...
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