sábado, 6 de março de 2010

"Shutter Island" - 2010



Adorei o "Shutter Island", estudo da verdade e da insanidade. Scorsese desenhou aqui (como em "New York, New York" mas de diferente maneira) um diálogo entre o "real" e o "artifício". Em "New York, New York", Scorsese propunha estudar a artificialidade do Musical, querendo fazer ressaltar dela e através dos actores, a veracidade das emoções (Donen encontra Cassavetes). Aqui, faz o mesmo, mas com o "film-noir" - "Out of the Past", "Detour" - o filme até parece uma batalha entre a fantasia e a realidade (os arrastamentos fantasiosos das árvores e dos edifícios vs. a demanda de DiCaprio - mais do espectador), a técnica serve os propósitos do argumento e da realização, sempre. Aqui nenhum efeito é deixado ao acaso nem está deslocado. O filme, como demanda pela verdade, diz-nos que Verdade há só uma, como "Rashomon" nos dizia mas de maneira diferente, e não me parece, como já ouvi dizer e como já li, também, que haja um final em aberto. Mais fechado, é impossível: "is it better to live like a monster, or die a good man?" Arrisco dizer que é o melhor Scorsese desta década (que para mim, ainda não acabou: o ano zero, como se sabe, existiu)...
Aproveito para dizer que os meus Scorseses favoritos são o "Casino" e o "Raging Bull" - dois "filmes do caralho" (é a única expressão que lhes faz justiça) - e como o "Shutter" foi o melhor filme que vi estreado este ano, em Portugal, falo, ainda, de estreias anteriores:
Vi o "Un Prophète" e gostei, também, bem como do "The Road" (distanciam-se o mais que podem de facilidades e de mainstream, mesmo que isso se note neles ainda muito - seja na música, seja nos cortes...). Indiferente ao "Up in the Air" (tinha boas interpretações e um bom guião, estava tudo muito direitinho, tudo no sítio, sim, mais não podia estar), indiferente ao "Anticristo" (tinha uma boa fotografia e gostei da raposa e da fauna variada ali aos saltos e aos vôos - bem sei que podemos gozar com tudo e, por isso, peço desculpa a quem gostou do filme, tem virtudes e reconheço-as). Ódio do ano: "Das weisse band" do Michael Haneke - ele e o Trier são considerados autores, mas eu não os acho autores alguns (ao Haneke, ainda assim, vou dar mais uma oportunidade). O "Nine" é o "excremento disfarçado de filme" do ano e se o "Otto e Mezzo" era uma carta de amor à Mulher, este aqui é uma conta de electricidade com 12 meses ou mais em atraso - e ninguém gosta disso...
Fora desta década e noutra liga competitiva, vi o "Planète Sauvage" de René Laloux - uma obra-prima absoluta - e o "Dersu Uzala" do Kurosawa - um grande filme ("Dersu!! - Capitan!!) - vi o "City Girl" do Murnau - tão bom ou melhor que o "Sunrise" (e eu achava-o insuperável) - hei de arranjar tempo para falar dele melhor, aqui, e como deve ser, um dia.
Por fim, vi o "Onde é a Casa do Amigo" do Kiarostami que, com muita esperança da minha parte, será analisado aqui...

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