domingo, 31 de outubro de 2010

Música para domigo


ou o meu post de Halloween

Não sei se já aqui falei nas programáticas mas belíssimas e coolíssimas bandas-sonoras dos filmes de John Carpenter. Com elas, Carpenter controla o ritmo fílmico, plano a plano, é o auteur por excelência (porque não?).. segue-se, então, um top 5 pessoal das suas bandas-sonoras:

1. In the Mouth of Madness (1995) - aquele final, aquele final...


2. Vampires (1998) - o penúltimo grande western (o último é Ghosts of Mars)


3. Escape From New York / Escape from LA - o díptico que mais adoro, Escape From LA é um dos meus filmes da vida...


4. Assault on Precinct 13 - a primeira manifestação musical do mestre



5. The Thing - because there`s no way this is a Morricone tune...


Menção honrosa: Big Trouble in Little China - the ultimate trip of the 80s



Os mais esperados


The Ward (2010)

Darkchylde (2011?)

* Lembro-me de ter tomado como certo o regresso de Carpenter ao Cinema, há um ano, com Riot, que seria interpretado por Nicholas Cage e, por isso, não ter levado a sério as notícias do lançamento de The Ward. Pois bem, The Ward já estreou no Festival de Toronto e foi visto no de Sitges, também. Podem-se acompanhar as últimas notícias sobre o filme, que têm sido divulgadas e comentadas, aqui. Darkchylde é o suposto novo projecto do realizador... A ver vamos..

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Planos (XXIV)



Professione: Reporter, de Michelangelo Antonioni

* Porque já cá faltava, este...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Planos (XXIII)



The Quiet Man, de John Ford

quinta-feira, 21 de outubro de 2010


Depois de ver ignorado o seu melhor filme desta década (Ne Touchez Pas la Hache, coisa magnífica, estupenda), Rivette volta a ser "distribuído" em Portugal. É dia de jubilo!!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Da estatura de um Homem


Juventude em Marcha, de Pedro Costa

The Limits of Control, de Jim Jarmusch

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Planos (XXII)



Heaven`s Gate, de Michael Cimino

* Ford, Ford, Ford...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010


* Bancroft. Nunca tão bela como aqui.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"7 Women" - 1966



O abismo etéreo:


7 Women
é de uma beleza hipnótica, é horrível. É belo e horrível, é uma dor aguda no estômago, um soco ideológico tremendo. Não é trágico, é outra coisa, a tragédia tem significado, consegue-se descrever. Não, é outra coisa. É morrer e voltar a nascer, é o filme mais espiritual e sagrado dos anos 60 e um traçar infinito de um pensamento que abarca todos os pensamentos, no fundo do abismo está o Céu, o fim de toda a dualidade, um Uno terreno e espiritual. O abismo etéreo.

Nem cito a gravidade que atravessa todo o filme ou a desilusão das suas personagens, na China apenas porque algo falta, something`s missing; o padre que não pregou, a freira que não viveu, a médica que não foi amada, a criada que nada viu. Não. O Cinema é o reflexo da vida e ouvi uma vez dizer que nos permite analisar as complexidades sob o véu da sua aparente simplicidade. Fora do ecrã, no pântano da realidade, não se consegue por estarem dispersas e diluídas, mas num filme, se bem feito, estão reunidas e ao descoberto, o véu desaparece. E 7 Women é dos mais belos descortinares de véus, parece levado pelo vento, naturalmente - é quando um filme não é uma sucessão de cenas e planos, mas um fenómeno inexplicável, uma força da natureza. Orgânico. Vivo.

É o mais belo e o mais sublime dos filmes e a obra de Ford é um degradé visual que se inaugura com a glória luminosa e libertadora de Young Mr. Lincoln, passa pelos jogos de luzes e sombras, os conflitos sociais e raciais, de Grapes of Wrath e The Searchers e acaba noutra glória, muito mais complexa, a deste filme. Ford é um pintor.

É conflituoso, clássico e radical. De tomada de posições, de confronto de ideologias, uma guerra aberta, de raivas libertas e raivas contidas, de rostos e enquadramentos lapidados. Num só local, que podia ser todos os locais. Cada forma, cada feitio, cada pormenor respeitado. Ford é um escultor, Ford é um arquitecto.


É de ritmos e sons, de pausas e tonalidades que ecoam pela eternidade. Em tom. Em perfeita harmonia. Ford é um músico.

Ford é de direita ou de esquerda? Aqui passa de um lado para o outro, levado pelas suas personagens, como quem dança, acompanhando os seus gestos, comportamentos e tomadas de consciência, de forma distanciada, mas sempre próximo, é a câmara, a objectiva e o visor. Serenamente. Os seus planos não descrevem, contam estórias. Ford é um coreógrafo.

E não há réstea de panfletarismo partidário em Ford, que não era um republicano que fazia westerns, mas alguém que observava e conhecia o ser humano. Pelos seus filmes dizemos que nos acha a sua família e que acha o povo a família dos seus heróis, e todos os grandes Fords descrevem isto, o dilacerar e o desfazer de uma família antes de outra, por razões nobres e de grande gravidade, nascer. O herói fordiano é alguém que se vê sem família e se designa a olhar por outra, mais numerosa, alguém que é destruído, comido vivo, mas que renasce das cinzas. Ford é um escritor.

Ford é o descritor e o constructor de sacrifícios. E é ao ver 7 Women que percebemos que filmar é o eterno sacrifício e que o abismo etéreo está apenas reservado a alguns. Mesmo na obra de Ford...

Há só uma maneira de mover a câmara, há só uma maneira de cortar, que é como quem diz “há só uma maneira de fazer Cinema”. Esta.

E fazê-lo?

Hoje, trocava todos os westerns de Ford por este filme...

A rendição completa, depois deste e deste.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Planos (XXI)








Keoma, de Enzo G. Castellari

* A mão é do Castellari

A neve como dispositivo dramático e narrativo:


Nightfall (Tourneur, 1957)

Il Grande Silenzio (Corbucci, 1968)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

"Il Grande Silenzio" - 1968



Il Grande Silenzio é, provavelmente, o melhor western spaguetti a par de Once Upon a Time in the West. Anuncia o caos através de planos desoladores (de uma paisagem pouco comum para o western) e de uma triste mas belíssima banda-sonora.

O que o distingue de outros filmes do sub-género é servir-se dos seus temas para propósitos dramáticos (uma história com contornos trágicos) e não para enaltecer um pistoleiro enigmático ou tratar a morte como um jogo que envolve bandidos e caçadores de prémios, de forma mais ou menos leviana.

Não me percebam mal, os códigos do género estão todos lá, há um herói e há um vilão e nunca se duvida por um momento de quem seja qual, o que o eleva é a abordagem, aquela ambiência desencantada, inacessível a qualquer ajuda divina; o branco da paisagem é a concretização formal da temática negra e trágica, o frio, gélido, a da aproximação do mal, Kinski, obviamente, também ajuda - se houve diabo ou criatura diabólica no Oeste, aqui está ela.

É filme da glória artística de Corbucci e não me parece que tenha feito outro tão bom como este aqui, que é filme que um Leone não desdenharia. O último acto é a coisa mais corajosa e audaz que já se fez no género.

E agora, vou por em dia os meus Castellaris.


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Petição (III)


I / II

A petição pelo regresso da exibição regular de Cinema à RTP2 faz hoje um mês. É algo em que ainda acredito, é algo que ainda é necessário.

Refutam-se alguns dos argumentos da petição, defendendo que já não se vêem filmes na televisão e será verdade para muita gente mas é dever de um canal de televisão dito cultural, a divulgação dessa cultura. É dever de um canal de televisão estudar essa mesma divulgação nesta nova era, de YouTubes e Facebooks. É dever de um canal cultural de televisão tornar-se passagem obrigatória na discussão e debate do progresso da informação, do futuro, seja do Cinema ou não. É dever de um canal cultural de televisão estar atento a novas manifestações artísticas, confrontando-as com as que lhes antecederam. É dever!

Como é nosso dever festejar pelo nosso direito a lutar (mais ainda no centenário da república):


A petição pode-se assinar aqui
It takes a nation of millions to hold us back!

Cimino



A carreira de Michael Cimino faz lembrar um pouco a de Orson Welles. Aclamados e "amados" no início de carreira, tornaram-se subitamente, e, diz-se, pelos seus (maus) génios, pelas suas exigências, outsiders. É curioso, porque o filme que afundou a nova Hollywood, foi feito quase back to back com The Deer Hunter, o filme da glória de Cimino. O próprio Cimino repara que "poucas horas antes de ter ganho o Óscar por O Caçador, tinha estado a fazer provas de guarda-roupa a Kris Kristofferson para As Portas do Céu. Foram cinco anos de trabalho, entre a escrita e a rodagem de ambos. Quase não houve intervalo. Portanto, para mim, não há separação nenhuma entre os dois".

Não tendo visto ainda Heavens Gate, acredito que partilhe da mesma ideologia de The Deer Hunter, um retrato fiel da América e do seu povo, durante dois acontecimentos marcantes (e sangrentos) da sua História. Foi a vergonha americana pela sua História, mais que quaisquer exigências griffithianas de Cimino, que causou a queda do realizador.

Year of the Dragon chegou cinco anos depois (Cimino só fez sete filmes) e só piorou as coisas (muito injustamente, diga-se). Retratava as tríades chinesas na América, que na altura se consideravam fictícias, e apesar das suas imensas qualidades (a poesia ciminiana, os movimentos circulares, o scope esférico e mágico, e calo-me por aqui) não foi um sucesso. Mas a tour de force de Michael Rourke e o retrato de uma América dilacerada e nos escombros fazem do filme, hoje, um dos símbolos maiores dos anos 80.

Depois de The Sicilian e de Desperate Hours, remake do filme de William Wyler e com Humphrey Bogart, dos anos 50, veio The Sunchaser, que continua a ser o único filme de Cimino, nos últimos 14 anos, isto se excluírmos o segmento No Translation needed, de Chacun Son Cinéma. Tem a mais bela interpretação, que me lembre, da carreira de Woody Harrelson e é de um amor acutilante aos seus personagens. Almeja um regresso a certas origens (históricas como cinematográficas) e é paisagem e arrebatamento, vida, morte e o limbo entre os dois. Não é perfeito, mas é um dos mais sinceros e belos filmes dos anos 90.

Crítica de Roger Ebert a The Deer Hunter
Crítica do mesmo Ebert a Heavens Gate
Entrevista ao realizador, aquando de uma retrospectiva na Cinemateca Portuguesa (onde diz, por exemplo, que Visconti, Ford e Kurosawa formam a sua Santíssima Trindade. "Visconti é o Pai, Ford é o Filho e Kurosawa o Espírito Santo" - e, curiosamente, percebe-se isto perfeitamente ao ver os seus filmes.

domingo, 3 de outubro de 2010

Planos (XX)


May beauty be before me.
May beauty be behind me.
May beauty be above me.
May beauty be below me.
May beauty be all around me.

The Sunchaser, de Michael Cimino