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De vez em quando, convido bloggers a escolher um plano e a falar, também, sobre ele. O vigésimo quinto convidado é o Narrador Subjectivo d'O Narrador Subjectivo, que escolheu o último plano de Ordet, de Carl Dreyer.
Inger: A criança. Está viva?
Mikkel: Sim, Inger. Vive em casa, com Deus.
Inger: Com Deus?.... Com Deus?
Mikkel: Sim, Inger.Encontrei a tua fé.
Resta o funeral. Eis que reentra em cena Johannes, o irmão do meio, louco desde que estudou Kierkegaard, que se julgava Cristo e que estava desaparecido há algumas horas. Finalmente são, oferece-se ainda assim para ressuscitar Inger. Acusado de blasfémia, Johannes argumenta que blasfémia é a falta de fé dos que o rodeiam. "Confia em Deus", diz a Mikkel. E, para espanto de todos, incluindo do espectador, Inger volta a respirar, mexe as mãos e abre os olhos. Mikkel aproxima-se e abraça-a, naquele que é o último plano do filme e o meu preferido após duas horas de suprema mestria visual. Nele, Mikkel faz as pazes com Deus, ao beneficiar da maior bênção possível e imaginária. Ao sentir o rosto da sua mulher encostado ao seu, tudo o que existe volta a fazer sentido para este homem, a vida tem outra vez significado, o certo é certo e o errado é errado, bom e mau, quente e frio, ele volta a saber o que isso é e o que os separa ao sentir o calor da pessoa que mais ama. Dreyer filma de perto e com um enquadramento perfeito enquanto Mikkel, vestido de preto, sorri e Inger, vestida de branco, chora. O tique-taque dum relógio recomeça. Dificilmente se encontram declarações de fé e catarses tão intensas como no simples plano final de Ordet." (Narrador Subjectivo)
O próximo convidado é o Pedro Ponte.
4 comentários:
Obrigado pelo convite, João! Cumprimentos
Obrigado, eu. Belo plano. Não sei se será verdade, mas vendo filmes dos dois não consigo deixar de pensar que o bergman é filho do dreyer, em muitos sentidos, seja a temática ou mesmo a forma de pensar a encadeação de planos..
Filho cinematográfico, claro está. :)
Outra grande escolha. Um dos melhores finais para um filme.
Cumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori
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